quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FELIZ 2009



Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
(Fernando Sabino)

Que neste ano que se inicia possamos ser felizes a cada momento, sem medo de tentar viver os desafios.
Que todos os instantes sejam únicos e memoráveis na vida de cada um de nós.
E assim começamos mais um Ano Novo,
Um dia que nasce, um primeiro passo, um longo caminho,
Um desafio, uma oportunidade e um pensamento:
“Que nesse ano sejamos, Todos, Muito Felizes!”

Abraços e saudações cordiais.

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A ética e os meios de comunicação



Jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão dedicados ao jornalismo, assim como os sites informativos na internet, nada disso deve existir com a simples finalidade de gerar empregos, fortunas e erguer os impérios da mídia; deve existir porque os cidadãos têm direito à informação (garantido em todo o mundo democrático, sobretudo desdde a declaração dos Direitos do Homem, de 1948, que estabelece, no artigo 19, o direito à liberdade de opinião e expressão, que inclui a liberdade de ‘procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras’, e garantindo também no Brasil, pela Constituição Federal, artigo 5º - XIV). BUCCI, Eugênio de. Sobre ética e imprensa, p. 33.

Os meios de comunicação têm muito mais que a função de informar. O uso da informação é o fio condutor do processo de manipulação ou de uma instrumentalização objetiva cuja finalidade visa sustentar interesses escusos. Isto nos induz a crer que muitas vezes, a informação tem servido como fonte de deturpação ou execração pública. Apesar da existência de um código de ética dos jornalistas, a pergunta pelo agir ético se faz fundamental na medida em que o bom senso sempre deve prevalecer diante dos interesses que se ocultam por meio da informação e incorrem na distorção das opiniões das pessoas. Desse modo, a preocupação com a ética se encontra presente no mundo contemporâneo, sobretudo, nos momentos em que mais se questiona sobre o uso da informação por parte dos meios de comunicação, atendo-se a veracidade ou falseabilidade de uma informação.

Em outras palavras, o profissional da comunicação tem a responsabilidade sobre: a) os efeitos sociais causados pela informação e b) a ineficácia da própria informação. Assim, esta conferência propõe-se a analisar o poder que tem a informação na condução das massas e o compromisso do profissional da comunicação através do cumprimento de um código de ética dos jornalistas.
Em 1936, o pensador Theodore Peterson em sua obra Four Theories of the Press (Quatro teorias da imprensa) resumiu em sete pontos fundamentais as suas críticas ao que chamou de "deficiências cruciais dos meios de comunicação":
1. A concentração de um amplo poder para os seus próprios fins. Seus donos na maioria das vezes têm divulgado apenas suas opiniões, especialmente em assuntos econômicos e políticos, em detrimento de opiniões contrárias;
2. Manifesta uma subserviência às grandes empresas e, algumas vezes permitem que os anunciantes controlem a linha editorial;
3. Resistência à mudança social;
4. Atenção demasiada ao conteúdo informativo superficial ou sensacionalista do que ao realmente significativo na sua cobertura dos acontecimentos;
5. Coloca em perigo a moral pública;
6. Invade a privacidade das pessoas;
7. É controlada por uma classe sócio-econômica vagamente definida como "classe empresarial", que dificulta o ingresso de novas pessoas no negócio, colocando assim em perigo o livre e aberto mercado das idéias.
Para coibir estas imperfeições, os meios de comunicação têm apelado para normas de redação, códigos de ética, constituição de críticos internos (onde cintilam figuras como o ombudsman), e a criação de conselhos de imprensa.

Constituem-se os meios de comunicação:
O Rádio, a Televisão (TV), o Cinema, o Jornal, a Revista, a Internet, a Publicidade, etc.
O Papel dos meios de comunicação:
Social, cultural, político, informativo, entretenimento etc.

Sugestão de leitura:
BLAZQUEZ, Niceto. Ética e Meios de Comunicação – São Paulo: Editora: Paulinas, 2001.
BUCCI, Eugênio de. Sobre ética e imprensa. Companhia das Letras, São Paulo, 2000.
PAIVA, Raquel.(org). Ética, cidadania e imprensa. Rio de Janeiro, Mauad, 2002.

Sugestão de filme:
Filme: O quarto poder
Título Original: Mad City
Atores: John Travolta, Dustin Hoffman, Mia Kirshner, Alan Alda e Tammy Lauren.
Diretor: Costas Gravas.
Ano: 1997. Duração: 115 minutos.
Sinopse: Narrativa sobre dois homens cujos destinos se cruzam por acaso. Um deles e o veterano reporter de TV Max Bracket, interpretado por Dustin Hoffman. Penalizado por entrar em pânico durante uma matéria, e obrigado a cobrir o cotidiano de uma pequena cidade quando Sam Baily, interpretado por John Travolta, casado e pai de família, descobre que foi despedido e entra em desespero, invadindo o museu com um rifle, fazendo vários reféns. Bracket que por acaso estava no local, vê no episodio, sua grande chance de voltar ao topo.

Ps: Roteiro da conferência apresentada no IV SIMPÓSIO DE FILOSOFIA DO ITEP em 13 de maio de 2008.

Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O teu despertar


Vigio teu sono na eternidade temporal,
Enquanto os primeiros clarão da manhã desponta,
Diante da janela inextensa do quarto,
Aguardo ansioso o teu despertar.

Eis que sobre o infinito ainda dormes,
O meu silencio é uma canção no teu sonho,
Apenas ouço o pulsar de dois corações,
Que acelerados ditam o rumo do teu despertar.

Para acordar meu amor quando o sol surgir,
O doce sonho é um acalanto na saudade,
E perto estarei no afago dos teus braços.

Ah! Teci todos os suspiros de uma vígilia,
No encantandor e singelo olhar descubro,
Que meu amor, enfim, despertou.

Carlos Henrique Carvalho

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Felicitações de Natal


Olá a todos os amigos e amigas,

Após um ano de intensas atividades e resultados produtivos, não poderia deixar de desejar aos que fazem este espaço, minhas cordiais saudações de natal. Que as festividades sejam sempre motivo de reflexão para além do apelo mercadológico que reina no mundo do capital.

Um ótimo natal a todos e a todas que fazem este espaço.

Carlos Henrique Carvalho

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Para compreender Sartre


Intróito

O trabalho que se segue na verdade, é parte de um projeto ainda em andamento que pretende construir uma obra que abrigue o máximo de categorias, conceitos e teses possíveis com as quais Jean-Paul Sartre tenha trabalhado ao longo da sua vida. A intenção de reunir tais “vocábulos” sob a denominação de Dicionário Sartre surgiu da necessidade de se compreender melhor o pensamento da citada personalidade, haja vista que a linguagem e a estrutura do seu pensamento têm conduzido os leitores, mormente, os que principiam suas pesquisas, a enormes dificuldades de entendimento. Daí que este breve trabalho pretende contribuir para minimizar o árduo caminho que nos leva a compreensão do arcabouço geral construído ao longo de mais de 40 anos (1935 a 1980) de intensas atividades de Sartre.
Para tanto, é importante informar que todos os termos presentes ao longo do texto acham-se linguisticamente organizado em ordem alfabética de forma que seja o mais sistemática e rigorosamente exposta para a apreciação de todos. Também, será perceptível que nas notas de rodapés alguns termos que complementa os principais serão explicitados na tentativa de abranger ainda mais os horizontes de compreensão dos leitores e apreciadores das obras de Sartre.
Conceitos, categorias e fundamentos do pensamento de Sartre.

Angústia

Sartre usa este termo para descrever a consciência de se ser livre. A melhor obra em que Sartre sintetiza o problema da angústia é a Náusea (1938), onde ele mostra Antoine Roquetin como um sujeito absurdamente largado no mundo, sem compreensão de dogmas ou determinismos pujantes sobre sua vida. Roquetin é a personificação de um sujeito livre porque crer ser ilógico para a sua vida confiar na existência de um Deus ou na influência da sociedade para justificar a sua ação ou ainda para lhes dizer o que e quem é. Nas palavras do personagem Roquetin pode-se perceber a causa da angústia:
"Esse sentimento de aventura decididamente não se origina dos acontecimentos: isso ficou provado. É antes a maneira pela quais os instantes se encadeiam. Eis, creio eu, o que ocorre: bruscamente se sente que o tempo se esgota, que cada instante leva a outro instante, esse a outro, e é inútil tentar retê-lo, etc". (Sartre: 1986, p. 90)

Assim, por estar condenado, sem diretrizes absolutas, o homem sofre a agonia de tomada de decisão e a angustia de suas conseqüências. A angustia é, então, a consciência da própria liberdade. A angústia é a consciência dessa liberdade de escolha, a consciência da imprevisibilidade última do próprio comportamento. Uma pessoa à beira de um penhasco perigoso tem medo de cair, e sente angustia ao pensar que nada o impede de se jogar lá embaixo, de se lançar no abismo.. O pensamento mais angustioso que pode ocorrer ao homem é quando, num dado momento não saber como irá se comportar no instante seguinte.

Consciência (Para-si)

Presença constante em toda a estrutura de O ser e o nada, sobretudo, na segunda parte da referida obra, o termo consciência em Sartre nasce do aforismo de Husserl (“Toda consciência é consciência de alguma coisa”), Sartre erige a idéia de que toda consciência implica uma postura sobre determinado objeto que não ela mesma. Por exemplo, o quadro verde que se encontra numa sala de aula qualquer que não essa aonde ora nos encontramos não pode está na consciência enquanto tal. Mas para que a idéia do quadro verde se configure como tal, uma existência concreta, é preciso recusar a idéia de que podemos pôr na consciência algo que não se encontra acessível a ela e buscar uma mediação relacional entre a consciência e o mundo (local onde se encontra o quadro verde).
Tal mediação é facilmente explicada pela idéia do quadro verde que se encontra diante de todos nós e sendo assim, a consciência só pode responder pelos objetos enquanto edifica uma relação com eles. Pode-se pensar a idéia de um quadro verde em toda consciência, mas enquanto não se puder tocar rabiscar ou mesmo ver um quadro verde, não se pode dizer concretamente sobre sua presença e isto é condição fundamental para entendermo-a.
Sendo assim, as primeiras impressões da idéia da consciência ou para si nos são mostradas através de situações e exemplos concretos em que se percebe a evidente presença do mundo, entendendo com isso, que a consciência é algo enquanto jogada no mundo, ou seja, enquanto consciência existencial. No entanto, para que alcance tal dimensão, o para si necessita de um outro elemento com a qual mantém intima relação construindo e compreendendo as situações do mundo: o em-si. Sabe-se que o para si pode ser pensado isoladamente, mas o aprofundamento da sua compreensão acontece precisamente quando trava uma mediação com o em-si, buscando entender e tornar clara a existência do mundo e dos objetos presentes nele. Dois termos também explicam melhor o significado da consciência na visão de Sartre: a presença a si e a facticidade. Nela é possível compreender porque a consciência se fundamenta e afirma sua validade.

Em-si

O sentido que se pretende dar ao em-si é objetivamente válido quando separado grosso modo, do para-si. Então, o sentido do em-si é revelado por Sartre como o fenômeno de ser. Na 6° parte da introdução de O ser e o nada, Sartre tenciona definir as características fundamentais do fenômeno. Porém, admite que a visão descritiva do fenômeno seja fatalmente obscurecida pela teoria do criacionismo , logo, expondo a sua recusa diante da idéia de que a vida humana tem um sentido determinado a priori.
De fato, Sartre acredita que a idéia de um ser dado no mundo por um Deus, torna-o sempre afetado pela passividade e incapaz de impor a criação de seus próprios valores. Isto equivaleria a pensar que os valores do homem já houveram sido concebidos pela subjetividade divina, o que para ele constitui uma atitude no mínimo, indesejável. A justificativa de Sartre para esta postura nos atenta com firmeza que o criacionismo ao escorregar no bojo da subjetividade divina, tira do ser toda a suficiência de si mesmo, situando em Deus, a sustentabilidade própria do ser.
A intenção do filósofo francês contemporâneo é de fazer uma veemente oposição aos valores morais pregados pelo cristianismo para pôr o fenômeno como instância independente de magnetismos da própria moral e com isso, alcançar uma compreensão lata e cuja validade se efetive. Para isso, Sartre distancia da questão moral e se apóia com vigor intelectual dos ditames da ontologia fenomenológica para enfim, encontrar uma definição precisa do em-si .
Assim, ele passa a definir as características do fenômeno designativo do ser dividido em três momentos sucintamente formulados: “o ser é; o ser é em-si e o ser é o que é”. (Idem, ibid, 40). A primeira característica mostra que enquanto aquilo que é o ser existe enquanto tal, nem ativo nem passivo. A segunda característica implica que o ser é marcado pela opacidade, não pode ser interiorizado nem exteriorizado encontrando-se ensimesmado. Finalmente, a terceira característica nos permite entender que por ser o que é o ser comunga o princípio de identidade , não sendo nem reduzido a uma possibilidade e menos ainda, ser requerido como uma pura necessidade.
Neste sentido, percebem-se as dificuldades de se encontrar o sentido do ser. Gerd Bornheim, considerado o mais notável crítico do pensamento de Sartre no Brasil afirma que o filósofo contemporâneo francês “restringe-se a revelar o em-si numa perspectiva puramente formal que exclui qualquer abertura para um possível conteúdo de sua realidade”. (Bornheim, 2005, p. 33).

Engajamento

Revela a intensidade do comprometimento do homem com seu projeto. Engajamento é ação enquanto tentativa de estar permanentemente descobrindo as condições de existência humana. A existência não é um estado, mas um ato. Etimologicamente, existir significa partir daquilo que está (ex) para estabelecer (sistere) algo, ao nível do que antes era apenas possível. Portanto, existir é ultrapassamento; é está-aí, estando em situação e em relações com o mundo e os outros, bem como, só é possível existir à medida que o humano vai se realizando livre e responsavelmente. É com esse agudo sentimento de fazendo-se a si mesmo e ao mundo que para o pensador francês existencialista, o homem não pode permanecer no estado da especulação desinteressada e do diletantismo, mas ele está instigado a vivenciar o drama de inventar-se e inventar a vida de modo comprometido.
O engajamento comprometido refere-se à atitude de escolher ou não-escolher participar de algo, mesmo assim, essa pessoa participa. Por quê? Porque aquilo que é feito ou não-é-feito é uma escolha, uma vez que em cada escolha realiza-se mais que a linha específica de ação, mas concomitantemente escolhe um estilo de escolha, pois ao optar, opta-se por uma definição da própria vida. A escolha torna público que espécie de pessoa estou fazendo de mim. Ao escolher tal opção ou atitude, estou simultaneamente escolhendo a espécie de humano que sou, a espécie de vida que levo e a espécie de mundo em que vivo. Caso o indivíduo se abstenha da tarefa de escolher, mesmo assim, efetiva uma escolha, que também é uma forma de se comprometer. Por outro lado, em conseqüência do comprometimento pessoal, cada um se compromete além do que deseja imediatamente.

Ética

Conforme nos explica Silva (2003), Sabemos que Sartre não tematiza a ética prontamente, embora seja evidente que a preocupação com ela esteja presente desde a origem do seu projeto epistemológico, existencial e ontológico. Na obra O ser e o nada (1943) que se define como uma clara proposta de ontologia fenomenológica como bem especifica seu sub-titulo, Sartre dedica na conclusão algumas palavras sobre o fato de não ter escrito sobre a moral na citada obra. Para ele, questão da ontologia não pode se ater às questões que tenham fundamentos morais ou éticos, isto inclui a psicanálise existencial. Ainda assim, muitas questões como a liberdade, a responsabilidade e as relações humanas não deixaram de ser colocadas por ele num plano do ethos. No sentido da práxis ética, Sartre formulou sua crença na capacidade de todo indivíduo escolher qual a melhor ação, objetivo, valores e formas de vida a ser seguida. Ainda afirmou que cai na ilusão aquele que crer na existência de valores objetivamente válidos jogados no mundo em vez de serem criados tão somente pela escolha humana. A ética sartriana é um permanente projeto em construção, por isso, não nos seria lítico fornecer uma terminologia

Existencialismo

Tem sua base originária em Kierkegaard (O conceito de angústia) como uma reação ao racionalismo e ao discurso especulativo formal dominante na filosofia e metafísica moderna e pré-contemporânea. A tese central desta corrente de pensamento é a afirmação da existência subjetiva em contraposição ao ser determinado, diante do qual todo projeto humano já está dado. O sujeito existencialista ao admitir a existência como questão constante de investigação e de construção do projeto humano que está sempre por se fazer rompe com aquele tipo de proposta que coloca o homem como um ser em sua essência determinado. Sartre, fiel a herança kierkegaardiana responde aos críticos marxistas e cristãos em sua obra O existencialismo é um humanismo que a proposta pregada por ele rompe coerentemente com uma filosofia romântica e otimista pregada pelo racionalismo ao pôr a responsabilidade do homem na construção de seu projeto que por sinal, inclui sempre o outro; o homem é um permanente projeto que procura superar seus limites através de suas ações e alcançar a plenitude existencial; o homem é construtor do seu destino e guia de si mesmo, ou seja, Deus é uma contingência desnecessária que não contribui para a consecução do projeto humano. Assim, o existencialismo sartriano afirma-se como um fiel representante dos anseios e dramas humanos diante de uma civilização desequilibrada no moralismo e nas regras que padronizam todas as condutas dos homens.

Facticidade

É um termo que tem origem do termo contingência de Husserl. Numa acepção simplista, a facticidade é simplesmente o caráter da condição humana que revela um comprometimento com uma situação dada no mundo e pressupõe um processo nadificador da consciência. A nadificação é o processo de reversão do ser enquanto existente que passa a condição de existido, isto é, a condição de presença perde o sentido, pura e simplesmente quando a consciência não mais remete à aparição dos objetos no mundo. Ainda assim, nadificação não é irreversível, visto que ao se justapor com o em-si, o para-si se estrutura contextualmente no mundo.
Efectualmente, Sartre em sua crítica contundente aborda a idéia de nadificação usando a figura do divino, ou seja, aquele que é causa de si na intenção de chegar à idéia de um Deus contingente em oposição à idéia de perfeição divina propalada pela filosofia cristã tendo como fundamento a noção de possibilidade. Para tanto, ele assinala dois aspectos em que a noção de possibilidade ganha contornos nítidos em sua fenomenologia: primeiramente, a possibilidade enquanto é dada antes do ser, ou seja, realça a idéia possível da existência de Deus antes de todas as outras coisas. Segundo, a possibilidade enquanto é estrutura ontológica do real. No primeiro caso, ele utiliza a suposição de que Pedro morreu e apenas o testemunho de quem vivenciou a existência de Pedro (um amigo) pode dá conta da presença do possível existir de Pedro. Acontece que a suposta morte de Pedro tira o caráter essencial da existência que vem a ser justamente a contingência. Dito desse modo, Pedro não pode mais responder pela presença de si no mundo. O segundo caso é o oposto, visto que fala do ser enquanto possibilidade de está numa determinada situação que não a que se encontra. Tal caso comporta as meras suposições subjetivas do ser (ser um garçom, um justo, um mentiroso, etc.) no intuito de auferir uma compreensão da consciência como aniquilação da própria identidade.

Liberdade (absoluta X determinada)

O tema mais instigante e profundo no pensamento de Sartre, ainda que nos pareçam não apontar um consenso definido sobre o que seja realmente a liberdade (absoluta ou determinada?). Se por um lado, Sartre acredita que a liberdade não deve ter limites e nem mesmo se vincular a nenhuma moral, por outro, a questão da escolha e da responsabilidade implicam uma reflexão sobre como devemos agir, já que toda nossa escolha nos torna responsáveis por nós mesmos e por toda a humanidade. Assim, a minha responsabilidade em escolher é enorme, porque qualquer que seja a escolha, está situada numa condição original, pois não há atos gratuitos ou sem significação. Não há atos gratuitos porque a cada instante de escolha eu me desvelo, mesmo a escolha pela indiferença ou pela parcionalidade, porque eu estou escolhendo um mundo, o meu mundo e isso é assunto meu. Não há atos sem significação porque a escolha é sempre escolha de algo, mesmo que seja uma não-escolha, ainda assim estou escolhendo, uma vez que não sou livre para não-escolher, pois a escolha é uma escolha como possibilidade de sim ou não, mas nunca uma escolha da não-possiblidade.
Cada indivíduo se descobre livre na solidão da escolha, além do mais ninguém pode escolher por mim, sob pena de não ser mais um ato de minha escolha. Portanto, as minhas derrotas são tão humanas quanto as minhas vitórias. Nessa solidão da escolha, angústia é o sentimento constitutivo da existência. A escolha entre x, y, z é a realização do auto-projeto humano.
A liberdade de escolha implica a responsabilidade e intencionalidade da inteireza de cada conduta humana, pois manifesta a maneira de cada um doar sentido, significado ao real; ao mesmo tempo em que elucida o seu existir no mundo.
Má-fé – Uma das grandes inovações de Sartre foi ter introduzido o estudo da má-fé na perspectiva ontológica. Numa definição despretensiosa, o termo em questão surge como uma tentativa de fugir da angústia mascarando a própria condição de se ser livre. Quando o homem se coloca numa posição em que tudo o que lhe move, constrói ou torna-se condição de seu projetar é exterior a si mesmo, isto é, não provocado por si mesmo, está agindo de má-fé. Para Sartre, o homem que nega a sua responsabilidade diante da ação e da escolha é sempre um covarde que foge da realidade e embarca na doce ilusão de ser algo pronto. Má-fé então, constitui-se em tentativa frustrada de determinar a priori as ações humanas e de negar o valor do homem enquanto projeto livre e desembaraçado da subjetividade divina. Alguns termos são erroneamente utilizados como sinônimos de má-fé como o fingimento e a mentira.

Para - Outro

Da notável contribuição de Sartre à filosofia e a literatura, esta se destaca. De início, o reconhecimento do outro se encontra no plano da experiência do mundo quotidiano quando o para-si descobre a inexorável realidade da existência do outro. Logo, percebe-se que essas dimensões transfenomênicas ao serem pensadas conjuntamente, implicam a realidade humana que segundo Sartre é o para-si-para - outro.
A problemática da ontologia do outro se encontra muito bem descrita na terceira parte da obra O ser e o nada. É nessa parte da obra que Sartre a discussão sobre o assunto abordado. O primeiro aspecto que vai justificar a relação de desafio e conflitos entre o eu e o outro é a questão da vergonha. Esta se destaca como a estrutura primeira que intermédia a relação conflituosa que há entre o eu e o outro. Assim, a vergonha em suas duas estruturas marca a apreensão inicial desta relação. Diz Sartre: “... a vergonha em sua estrutura primeira, é vergonha diante de alguém.” (Idem, Ibid: 289). Há também, a vergonha diante de si mesmo. Continua ele a sua exposição da presença do outro o colocando como “o mediador indispensável entre mim e mim mesmo: sinto vergonha de mim tal como apareço ao outro.” (Idem, Ibid: id). Porém, ele admite a necessidade do outro em seu ser para que haja a captação reflexiva das estruturas do ser. A experiência da vergonha, então, se constitui como uma das provas da existência do outro.
Mas o que me parece ser o aspecto mais interessante da relação entre o eu e o outro é a questão do olhar do outro. Nele, a relação existente supõe o ápice do regurgitar do conflito entre ambos. Neste caso, o que se abala aqui é a estrutura ontológica do eu, ocasionando aquilo que para Sartre codifica-se na chamada relação sujeito-objeto. Então o olhar do outro não é simplesmente um olhar que observa e vê algo ou alguém. Muito pelo contrário, evidencia-se a profundidade desta relação no reconhecimento de que este olhar é objetivador. Não é a toa que o outro é por princípio aquele que me olha, o que impõe a objetividade como condição da percepção dele.
Por último, vemos o corpo. No segundo capítulo da terceira parte da obra O ser e o nada, o filósofo francês se debruça sobre o problema do corpo após percorrer um itinerário que principia evocando o problema da existência do outro, passando pela crítica ao solipsismo e a questão do olhar, tudo isto numa perspectiva ontológica como bem sugere o subtítulo da obra.
Ao analisarmos a relação eu - outro é conveniente perceber que a dimensão ontológica enquanto marca desta relação aponta que o eu só toma consciência de si, do outro e do mundo quando o outro manifesta a sua aparição. Isto implica que a existência do eu não pode ser visto simplesmente numa como consciência reflexiva de si mesmo, muito pelo contrário, tem que ser descrito como consciência que se dar para os outros. Neste sentido, Sartre vai propor uma ontologia do corpo em função da intersubjetividade.
Inicialmente ele explicita o problema do corpo colocando em questão o fato do mesmo ser pensado como algo exterior, físico e concreto em contraposição à noção de consciência como sendo interior, metafísico e contrário a qualquer possibilidade de ser concreto. É perceptível na relação consciência – corpo uma profunda preocupação de Sartre em abordar o corpo numa linguagem metodológico-descritiva, visto que a sua real intenção não é dar ao corpo o status de um objeto, mas superar esta idéia e concebê-lo como elo necessário na relação eu – outro.
Para tanto, ele funda três dimensões ontológicas para o corpo: A primeira dimensão coloca o corpo na facticidade, isto é, no mundo mesmo, o que implica que o eu se apreenda como responsável por si e pela contingência do mundo. Além do mais, é precisamente através do corpo que se tem acesso à facticidade da consciência. A facticidade nada mais é que a condição primordial que possibilita ou não a escolha das circunstâncias que açambarca a realidade humana. Já a segunda dimensão ontológica (o corpo para o outro), aponta dois pressupostos: 1° o reconhecimento do corpo do outro e 2° o devotamento ao corpo do outro. No primeiro pressuposto, ao se utilizar do corpo do outro, o eu se reconhece no sentido intramundano como individuação e engajamento. O segundo pressuposto aponta o quanto o outro objetiva o eu a partir do próprio corpo. É a afirmação da frase: eu sou escravo do corpo do outro. A terceira dimensão ontológica como as duas anteriores justificam a relação fundamental eu – outro a partir do instante em que a influência do olhar se sobrepõe e o corpo é revelado como ser – objeto. Assim das três dimensões ontológicas citadas, percebemos como resultado uma outra dimensão que aponta para o reconhecimento da existência do eu a partir do instante em que o outro conhece o seu corpo. Ora, então se torna claro que o outro também passa a ter sua existência reconhecida, já que trava uma profunda relação com o eu cuja marca original é o conflito.
Por fim, Sartre vai buscar a resposta na origem das relações concretas entre o eu e o outro. A reflexão do filósofo francês acerca da concretização da relação eu – outro aponta para duas atitudes inteiramente opostas: primeiro, o eu assimila o outro e segundo, o eu é objetivado pelo outro. No primeiro caso, percebe-se a tentativa do eu assimilar a consciência do outro. Constituem-se como tentativas de assimilação, o amor, a linguagem e o masoquismo. Dentro deste grupo, o amor é o que mais parece se aproximar da condição de estabelecimento de unificação com o outro, no entanto, sem alcançar a unidade. Já no segundo caso que advém segundo Sartre do fracasso do primeiro, nota-se que o eu tenta se afirmar livre frente ao outro, aniquilando a sua liberdade a partir dos elementos como a indiferença, o desejo, o ódio e o sadismo. O caso que mais se destaca é o do desejo, sobretudo, o sexual, que implica uma tentativa original do eu tomar posse da subjetividade do outro, fazendo com que ele se torne objeto. Então, é no desejo pelo outro ou ainda na captação do desejo que o outro nutre pelo eu que se caracteriza a apreensão primordial da sexualidade. Mas no pensamento de Sartre, é visível a idéia de que ambos os casos estão fadados ao fracasso e é apenas no conflito que se vislumbra a possibilidade viável de contornar esses problemas.

Referências bibliográficas

Obras de Sartre

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 1998.
______. A náusea. Trad. Rita Braga. São Paulo: Nova Fronteira, 1986.
______. O muro. 9° ed. Trad. H. Alcântara Silveira. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1977.

Obras de outros autores consultadas.

BORNHEIM, Gerd Albert. Sartre: metafísica e existencialismo. São Paulo: perspectiva, 1971.
JOLIVET, Régis. A Doutrina Existencialista. Porto: Livraria Tavares Martins, 1961.
KIERKEGAARD, S. O conceito de angústia. São Paulo: Hemus, 1968.
SILVA, Franklin Leopoldo. Ética e literatura em Sartre: ensaios introdutórios. São Paulo: Ed. Unesp, 2003.

Ps: Pintura de Henrik Hagtvedt
Carlos Henrique Carvalho

sábado, 13 de dezembro de 2008

Intensamente Sartre



"Todo o existente nasce sem razão, prolonga-se por fraqueza e morre por acaso". SARTRE. A Náusea(1931).

Uma das mais intensas e controversas personalidades do século XX, assim podemos descrever o francês Jean-Paul Sartre. Entre os anos 1940 e 1970 ele foi o rei da polêmica, sempre tomando partido dos menos desfavorecidos e injustiçados no mundo. Posicionou-se contra o governo do seu país na questão Argélia, contra o imperialismo praticado pela corrente do mal EUA e Gra-Bretanha, a opressão aos negros e o envolvimento com as questões judaicas e palestinas.

Sartre foi um intelectual carismático que soube defender o existencialismo com unhas e dentes das polêmicas ideológicas e conceituais com os cristãos e marxistas. Além disso se tornou conhecido como o mais ferrenho defensor da liberdade humana, contra todas as formas de imposições e agressões aos direitos humanos. Nomeado presidente do tribunal internacional Russel para julgar crimes dos EUA no Vietnã, portou-se sempre como um sujeito que sabia o que fazer diante de um mundo feio, sujo e mau.

Não tenha dúvida, era o tipo de figura que nossos avós e pais paravam para escutar ou ler algo ao seu respeito. Não falarei neste texto do Sartre filósofo, mas quero apenas brevemente enaltecer a sua importância para àqueles que acreditam se tratar de alguém com idéias defasadas pelo tempo e a evolução do conhecimento tecnico-cientifico. Para tanto, faço uso das palavras do professor Odílio Alves Aguiar (UFC) que podem ser encontrada na orelha da Revista Cadernos Sartre, publicação do Grupo de Estudos Sartre da UECE da qual tenho orgulho em fazer parte.

"Se vivemos sob o signo do automatismo dos mercados e essa situação é posta como um destino, pensar com Sartre hoje significa que podemos pensar e agir de forma a transcender essa situação. Na perspectiva de Sartre, enquanto existirem homens, por mais complexa e manipuladora que seja a situação deles, será possível o exercício da liberdade, pois esse é o horizonte ontológico que constitui a condição humana".

Nesta semana em que a declaração universal dos Direitos Humanos completou 60 anos, ao ser adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, nada mais adequado que relembrar o nome e a figura histórica e intensa de Jean-Paul Sartre.

Carlos Henrique Carvalho

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O quarto azul



Entre o desejo e a força da vida.
O olhar afoito em direção ao vazio
E ao corpo teu que fere o meu espaço,
Incomoda e expulsa a dor na razão.

Ó céu! Esqueci por completo sua cor,
Ao reduzir minha existência ao quarto azul.
Fugi do confronto que em meu peito explodia,
E fazia esse louco desejo parecer vilania.

No quarto azul sou livre e extenso,
Dono de todos os sonhos do mundo ingrato,
Mas refém de suas paredes sem mácula.

Vivo esta existência da dor e do amor,
Liberto no recanto de livros e parafernálias,
Vou tecendo os rumos do mundo no quarto azul.

Carlos Henrique Carvalho

domingo, 7 de dezembro de 2008

Os dados de um desastre


A defesa Civil de Santa Catarina sempre vem atualizando seus dados da tragédia causada pelas chuvas ocorrida em grande parte do Estado. Foi criado inclusive um site especificamente voltado para a divulgação detalhada e bastante descritiva deste trágico dilúvio contemporâneo: http://www.desastre.sc.gov.br/.
A partir do momento em que pararam as chuvas, as doações de todos os estados do Brasil começaram a chegar em peso a todos os municípios atingidos com a mobilização de diversos setores da sociedade civil, do Estado e de empresas privadas que vem contribuindo como pode para amenizar a dor de quem perdeu tudo o que tinha.
O resumo do desastre atualizado às 13:15 do dia 07/12/08 acusa o registro de 32.946 desalojados e desabrigados, sendo 5.710 desabrigados e 27.236 desalojados. Até o presente instante foram constatados 122 ÓBITOS e 29 desaparecidos.

Mais dados podem ser obtidos em:

http://webimprensa.sc.gov.br/paginas/index.asp

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Embromação a rodo.


Quem nunca tentou cancelar desesperadamente um serviço, seja ele qual for? A tentativa de cancelamento do serviço do cartão de crédito, da operadora de telefone, da internet e de outro que porventura seja necesário à vida cotidiana sempre foi um tormento crucial na vida de tanta gente.

Acontece que desde ontem todas as empresas tiveram que se adequar às normas do consumidor. Tiveram, mas a ampla maioria não se adequaram de modo algum, deixando boa parte dos consumidores com cara de otário. Os atrasos continuam, as embromações aumentam a rodo e as empresaas brincam com a lei crente que a mesma não tem valor.

Enquanto isso, o Ministério da Justiça pretende notificar nesta semana cerca de 50 empresas de setores afetados pelas novas regras de funcionamento dos call centers para que expliquem porque deixaram de lado uma consulta feita pelos Procons estaduais para saber se elas estavam se preparando para cumprir as normas.

Ao longo de novembro, os órgãos estaduais de defesa do consumidor de 12 Estados e do Distrito Federal enviaram 557 ofícios a 140 empresas de diversos setores, com perguntas sobre os procedimentos que deveriam ser adotados para atender às exigências, como a que determina que não pode passar de um minuto o tempo de espera do consumidor. Apenas 47,4% dos ofícios foram respondidos.

“As normas foram discutidas por um ano e as empresas tiveram seis meses para se adaptar. Não dá para alegar que o tempo foi curto”, diz Evandro Zuliani, diretor de atendimento do Procon-SP. Segundo ele, ainda não há um balanço sobre a adequação das companhias às regras. Porém, um levantamento feito pela entidade há dez dias, com 68 empresas, mostrou que a maioria ainda tinha itens em desacordo com a legislação. Para garantir o cumprimento do decreto e, se necessário, aplicar punições, o Procon-SP está testando, nesta semana, os serviços das empresas. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também tem feito simulações, como clientes, para verificar o cumprimento das regras.

Vamos ver até onde vai esta palhaçada das multinacionais vorazes e pretensiosas que brincam com a lei e dar sempre um chá de cadeira no consumidor pelo país afora, sem contar os péssimos serviços prestados e as cobranças abusivas que continuam se perpertuando neste país, eterno terceiro-mundista.

Para saber mais leia os jornais de hoje e acompanhem os telejornais, os programas políticos nas rádios porque esse assunto ainda vai render muito mais.

Carlos Henrique Carvalho