quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FELIZ 2009



Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
(Fernando Sabino)

Que neste ano que se inicia possamos ser felizes a cada momento, sem medo de tentar viver os desafios.
Que todos os instantes sejam únicos e memoráveis na vida de cada um de nós.
E assim começamos mais um Ano Novo,
Um dia que nasce, um primeiro passo, um longo caminho,
Um desafio, uma oportunidade e um pensamento:
“Que nesse ano sejamos, Todos, Muito Felizes!”

Abraços e saudações cordiais.

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A ética e os meios de comunicação



Jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão dedicados ao jornalismo, assim como os sites informativos na internet, nada disso deve existir com a simples finalidade de gerar empregos, fortunas e erguer os impérios da mídia; deve existir porque os cidadãos têm direito à informação (garantido em todo o mundo democrático, sobretudo desdde a declaração dos Direitos do Homem, de 1948, que estabelece, no artigo 19, o direito à liberdade de opinião e expressão, que inclui a liberdade de ‘procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras’, e garantindo também no Brasil, pela Constituição Federal, artigo 5º - XIV). BUCCI, Eugênio de. Sobre ética e imprensa, p. 33.

Os meios de comunicação têm muito mais que a função de informar. O uso da informação é o fio condutor do processo de manipulação ou de uma instrumentalização objetiva cuja finalidade visa sustentar interesses escusos. Isto nos induz a crer que muitas vezes, a informação tem servido como fonte de deturpação ou execração pública. Apesar da existência de um código de ética dos jornalistas, a pergunta pelo agir ético se faz fundamental na medida em que o bom senso sempre deve prevalecer diante dos interesses que se ocultam por meio da informação e incorrem na distorção das opiniões das pessoas. Desse modo, a preocupação com a ética se encontra presente no mundo contemporâneo, sobretudo, nos momentos em que mais se questiona sobre o uso da informação por parte dos meios de comunicação, atendo-se a veracidade ou falseabilidade de uma informação.

Em outras palavras, o profissional da comunicação tem a responsabilidade sobre: a) os efeitos sociais causados pela informação e b) a ineficácia da própria informação. Assim, esta conferência propõe-se a analisar o poder que tem a informação na condução das massas e o compromisso do profissional da comunicação através do cumprimento de um código de ética dos jornalistas.
Em 1936, o pensador Theodore Peterson em sua obra Four Theories of the Press (Quatro teorias da imprensa) resumiu em sete pontos fundamentais as suas críticas ao que chamou de "deficiências cruciais dos meios de comunicação":
1. A concentração de um amplo poder para os seus próprios fins. Seus donos na maioria das vezes têm divulgado apenas suas opiniões, especialmente em assuntos econômicos e políticos, em detrimento de opiniões contrárias;
2. Manifesta uma subserviência às grandes empresas e, algumas vezes permitem que os anunciantes controlem a linha editorial;
3. Resistência à mudança social;
4. Atenção demasiada ao conteúdo informativo superficial ou sensacionalista do que ao realmente significativo na sua cobertura dos acontecimentos;
5. Coloca em perigo a moral pública;
6. Invade a privacidade das pessoas;
7. É controlada por uma classe sócio-econômica vagamente definida como "classe empresarial", que dificulta o ingresso de novas pessoas no negócio, colocando assim em perigo o livre e aberto mercado das idéias.
Para coibir estas imperfeições, os meios de comunicação têm apelado para normas de redação, códigos de ética, constituição de críticos internos (onde cintilam figuras como o ombudsman), e a criação de conselhos de imprensa.

Constituem-se os meios de comunicação:
O Rádio, a Televisão (TV), o Cinema, o Jornal, a Revista, a Internet, a Publicidade, etc.
O Papel dos meios de comunicação:
Social, cultural, político, informativo, entretenimento etc.

Sugestão de leitura:
BLAZQUEZ, Niceto. Ética e Meios de Comunicação – São Paulo: Editora: Paulinas, 2001.
BUCCI, Eugênio de. Sobre ética e imprensa. Companhia das Letras, São Paulo, 2000.
PAIVA, Raquel.(org). Ética, cidadania e imprensa. Rio de Janeiro, Mauad, 2002.

Sugestão de filme:
Filme: O quarto poder
Título Original: Mad City
Atores: John Travolta, Dustin Hoffman, Mia Kirshner, Alan Alda e Tammy Lauren.
Diretor: Costas Gravas.
Ano: 1997. Duração: 115 minutos.
Sinopse: Narrativa sobre dois homens cujos destinos se cruzam por acaso. Um deles e o veterano reporter de TV Max Bracket, interpretado por Dustin Hoffman. Penalizado por entrar em pânico durante uma matéria, e obrigado a cobrir o cotidiano de uma pequena cidade quando Sam Baily, interpretado por John Travolta, casado e pai de família, descobre que foi despedido e entra em desespero, invadindo o museu com um rifle, fazendo vários reféns. Bracket que por acaso estava no local, vê no episodio, sua grande chance de voltar ao topo.

Ps: Roteiro da conferência apresentada no IV SIMPÓSIO DE FILOSOFIA DO ITEP em 13 de maio de 2008.

Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O teu despertar


Vigio teu sono na eternidade temporal,
Enquanto os primeiros clarão da manhã desponta,
Diante da janela inextensa do quarto,
Aguardo ansioso o teu despertar.

Eis que sobre o infinito ainda dormes,
O meu silencio é uma canção no teu sonho,
Apenas ouço o pulsar de dois corações,
Que acelerados ditam o rumo do teu despertar.

Para acordar meu amor quando o sol surgir,
O doce sonho é um acalanto na saudade,
E perto estarei no afago dos teus braços.

Ah! Teci todos os suspiros de uma vígilia,
No encantandor e singelo olhar descubro,
Que meu amor, enfim, despertou.

Carlos Henrique Carvalho

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Felicitações de Natal


Olá a todos os amigos e amigas,

Após um ano de intensas atividades e resultados produtivos, não poderia deixar de desejar aos que fazem este espaço, minhas cordiais saudações de natal. Que as festividades sejam sempre motivo de reflexão para além do apelo mercadológico que reina no mundo do capital.

Um ótimo natal a todos e a todas que fazem este espaço.

Carlos Henrique Carvalho

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Para compreender Sartre


Intróito

O trabalho que se segue na verdade, é parte de um projeto ainda em andamento que pretende construir uma obra que abrigue o máximo de categorias, conceitos e teses possíveis com as quais Jean-Paul Sartre tenha trabalhado ao longo da sua vida. A intenção de reunir tais “vocábulos” sob a denominação de Dicionário Sartre surgiu da necessidade de se compreender melhor o pensamento da citada personalidade, haja vista que a linguagem e a estrutura do seu pensamento têm conduzido os leitores, mormente, os que principiam suas pesquisas, a enormes dificuldades de entendimento. Daí que este breve trabalho pretende contribuir para minimizar o árduo caminho que nos leva a compreensão do arcabouço geral construído ao longo de mais de 40 anos (1935 a 1980) de intensas atividades de Sartre.
Para tanto, é importante informar que todos os termos presentes ao longo do texto acham-se linguisticamente organizado em ordem alfabética de forma que seja o mais sistemática e rigorosamente exposta para a apreciação de todos. Também, será perceptível que nas notas de rodapés alguns termos que complementa os principais serão explicitados na tentativa de abranger ainda mais os horizontes de compreensão dos leitores e apreciadores das obras de Sartre.
Conceitos, categorias e fundamentos do pensamento de Sartre.

Angústia

Sartre usa este termo para descrever a consciência de se ser livre. A melhor obra em que Sartre sintetiza o problema da angústia é a Náusea (1938), onde ele mostra Antoine Roquetin como um sujeito absurdamente largado no mundo, sem compreensão de dogmas ou determinismos pujantes sobre sua vida. Roquetin é a personificação de um sujeito livre porque crer ser ilógico para a sua vida confiar na existência de um Deus ou na influência da sociedade para justificar a sua ação ou ainda para lhes dizer o que e quem é. Nas palavras do personagem Roquetin pode-se perceber a causa da angústia:
"Esse sentimento de aventura decididamente não se origina dos acontecimentos: isso ficou provado. É antes a maneira pela quais os instantes se encadeiam. Eis, creio eu, o que ocorre: bruscamente se sente que o tempo se esgota, que cada instante leva a outro instante, esse a outro, e é inútil tentar retê-lo, etc". (Sartre: 1986, p. 90)

Assim, por estar condenado, sem diretrizes absolutas, o homem sofre a agonia de tomada de decisão e a angustia de suas conseqüências. A angustia é, então, a consciência da própria liberdade. A angústia é a consciência dessa liberdade de escolha, a consciência da imprevisibilidade última do próprio comportamento. Uma pessoa à beira de um penhasco perigoso tem medo de cair, e sente angustia ao pensar que nada o impede de se jogar lá embaixo, de se lançar no abismo.. O pensamento mais angustioso que pode ocorrer ao homem é quando, num dado momento não saber como irá se comportar no instante seguinte.

Consciência (Para-si)

Presença constante em toda a estrutura de O ser e o nada, sobretudo, na segunda parte da referida obra, o termo consciência em Sartre nasce do aforismo de Husserl (“Toda consciência é consciência de alguma coisa”), Sartre erige a idéia de que toda consciência implica uma postura sobre determinado objeto que não ela mesma. Por exemplo, o quadro verde que se encontra numa sala de aula qualquer que não essa aonde ora nos encontramos não pode está na consciência enquanto tal. Mas para que a idéia do quadro verde se configure como tal, uma existência concreta, é preciso recusar a idéia de que podemos pôr na consciência algo que não se encontra acessível a ela e buscar uma mediação relacional entre a consciência e o mundo (local onde se encontra o quadro verde).
Tal mediação é facilmente explicada pela idéia do quadro verde que se encontra diante de todos nós e sendo assim, a consciência só pode responder pelos objetos enquanto edifica uma relação com eles. Pode-se pensar a idéia de um quadro verde em toda consciência, mas enquanto não se puder tocar rabiscar ou mesmo ver um quadro verde, não se pode dizer concretamente sobre sua presença e isto é condição fundamental para entendermo-a.
Sendo assim, as primeiras impressões da idéia da consciência ou para si nos são mostradas através de situações e exemplos concretos em que se percebe a evidente presença do mundo, entendendo com isso, que a consciência é algo enquanto jogada no mundo, ou seja, enquanto consciência existencial. No entanto, para que alcance tal dimensão, o para si necessita de um outro elemento com a qual mantém intima relação construindo e compreendendo as situações do mundo: o em-si. Sabe-se que o para si pode ser pensado isoladamente, mas o aprofundamento da sua compreensão acontece precisamente quando trava uma mediação com o em-si, buscando entender e tornar clara a existência do mundo e dos objetos presentes nele. Dois termos também explicam melhor o significado da consciência na visão de Sartre: a presença a si e a facticidade. Nela é possível compreender porque a consciência se fundamenta e afirma sua validade.

Em-si

O sentido que se pretende dar ao em-si é objetivamente válido quando separado grosso modo, do para-si. Então, o sentido do em-si é revelado por Sartre como o fenômeno de ser. Na 6° parte da introdução de O ser e o nada, Sartre tenciona definir as características fundamentais do fenômeno. Porém, admite que a visão descritiva do fenômeno seja fatalmente obscurecida pela teoria do criacionismo , logo, expondo a sua recusa diante da idéia de que a vida humana tem um sentido determinado a priori.
De fato, Sartre acredita que a idéia de um ser dado no mundo por um Deus, torna-o sempre afetado pela passividade e incapaz de impor a criação de seus próprios valores. Isto equivaleria a pensar que os valores do homem já houveram sido concebidos pela subjetividade divina, o que para ele constitui uma atitude no mínimo, indesejável. A justificativa de Sartre para esta postura nos atenta com firmeza que o criacionismo ao escorregar no bojo da subjetividade divina, tira do ser toda a suficiência de si mesmo, situando em Deus, a sustentabilidade própria do ser.
A intenção do filósofo francês contemporâneo é de fazer uma veemente oposição aos valores morais pregados pelo cristianismo para pôr o fenômeno como instância independente de magnetismos da própria moral e com isso, alcançar uma compreensão lata e cuja validade se efetive. Para isso, Sartre distancia da questão moral e se apóia com vigor intelectual dos ditames da ontologia fenomenológica para enfim, encontrar uma definição precisa do em-si .
Assim, ele passa a definir as características do fenômeno designativo do ser dividido em três momentos sucintamente formulados: “o ser é; o ser é em-si e o ser é o que é”. (Idem, ibid, 40). A primeira característica mostra que enquanto aquilo que é o ser existe enquanto tal, nem ativo nem passivo. A segunda característica implica que o ser é marcado pela opacidade, não pode ser interiorizado nem exteriorizado encontrando-se ensimesmado. Finalmente, a terceira característica nos permite entender que por ser o que é o ser comunga o princípio de identidade , não sendo nem reduzido a uma possibilidade e menos ainda, ser requerido como uma pura necessidade.
Neste sentido, percebem-se as dificuldades de se encontrar o sentido do ser. Gerd Bornheim, considerado o mais notável crítico do pensamento de Sartre no Brasil afirma que o filósofo contemporâneo francês “restringe-se a revelar o em-si numa perspectiva puramente formal que exclui qualquer abertura para um possível conteúdo de sua realidade”. (Bornheim, 2005, p. 33).

Engajamento

Revela a intensidade do comprometimento do homem com seu projeto. Engajamento é ação enquanto tentativa de estar permanentemente descobrindo as condições de existência humana. A existência não é um estado, mas um ato. Etimologicamente, existir significa partir daquilo que está (ex) para estabelecer (sistere) algo, ao nível do que antes era apenas possível. Portanto, existir é ultrapassamento; é está-aí, estando em situação e em relações com o mundo e os outros, bem como, só é possível existir à medida que o humano vai se realizando livre e responsavelmente. É com esse agudo sentimento de fazendo-se a si mesmo e ao mundo que para o pensador francês existencialista, o homem não pode permanecer no estado da especulação desinteressada e do diletantismo, mas ele está instigado a vivenciar o drama de inventar-se e inventar a vida de modo comprometido.
O engajamento comprometido refere-se à atitude de escolher ou não-escolher participar de algo, mesmo assim, essa pessoa participa. Por quê? Porque aquilo que é feito ou não-é-feito é uma escolha, uma vez que em cada escolha realiza-se mais que a linha específica de ação, mas concomitantemente escolhe um estilo de escolha, pois ao optar, opta-se por uma definição da própria vida. A escolha torna público que espécie de pessoa estou fazendo de mim. Ao escolher tal opção ou atitude, estou simultaneamente escolhendo a espécie de humano que sou, a espécie de vida que levo e a espécie de mundo em que vivo. Caso o indivíduo se abstenha da tarefa de escolher, mesmo assim, efetiva uma escolha, que também é uma forma de se comprometer. Por outro lado, em conseqüência do comprometimento pessoal, cada um se compromete além do que deseja imediatamente.

Ética

Conforme nos explica Silva (2003), Sabemos que Sartre não tematiza a ética prontamente, embora seja evidente que a preocupação com ela esteja presente desde a origem do seu projeto epistemológico, existencial e ontológico. Na obra O ser e o nada (1943) que se define como uma clara proposta de ontologia fenomenológica como bem especifica seu sub-titulo, Sartre dedica na conclusão algumas palavras sobre o fato de não ter escrito sobre a moral na citada obra. Para ele, questão da ontologia não pode se ater às questões que tenham fundamentos morais ou éticos, isto inclui a psicanálise existencial. Ainda assim, muitas questões como a liberdade, a responsabilidade e as relações humanas não deixaram de ser colocadas por ele num plano do ethos. No sentido da práxis ética, Sartre formulou sua crença na capacidade de todo indivíduo escolher qual a melhor ação, objetivo, valores e formas de vida a ser seguida. Ainda afirmou que cai na ilusão aquele que crer na existência de valores objetivamente válidos jogados no mundo em vez de serem criados tão somente pela escolha humana. A ética sartriana é um permanente projeto em construção, por isso, não nos seria lítico fornecer uma terminologia

Existencialismo

Tem sua base originária em Kierkegaard (O conceito de angústia) como uma reação ao racionalismo e ao discurso especulativo formal dominante na filosofia e metafísica moderna e pré-contemporânea. A tese central desta corrente de pensamento é a afirmação da existência subjetiva em contraposição ao ser determinado, diante do qual todo projeto humano já está dado. O sujeito existencialista ao admitir a existência como questão constante de investigação e de construção do projeto humano que está sempre por se fazer rompe com aquele tipo de proposta que coloca o homem como um ser em sua essência determinado. Sartre, fiel a herança kierkegaardiana responde aos críticos marxistas e cristãos em sua obra O existencialismo é um humanismo que a proposta pregada por ele rompe coerentemente com uma filosofia romântica e otimista pregada pelo racionalismo ao pôr a responsabilidade do homem na construção de seu projeto que por sinal, inclui sempre o outro; o homem é um permanente projeto que procura superar seus limites através de suas ações e alcançar a plenitude existencial; o homem é construtor do seu destino e guia de si mesmo, ou seja, Deus é uma contingência desnecessária que não contribui para a consecução do projeto humano. Assim, o existencialismo sartriano afirma-se como um fiel representante dos anseios e dramas humanos diante de uma civilização desequilibrada no moralismo e nas regras que padronizam todas as condutas dos homens.

Facticidade

É um termo que tem origem do termo contingência de Husserl. Numa acepção simplista, a facticidade é simplesmente o caráter da condição humana que revela um comprometimento com uma situação dada no mundo e pressupõe um processo nadificador da consciência. A nadificação é o processo de reversão do ser enquanto existente que passa a condição de existido, isto é, a condição de presença perde o sentido, pura e simplesmente quando a consciência não mais remete à aparição dos objetos no mundo. Ainda assim, nadificação não é irreversível, visto que ao se justapor com o em-si, o para-si se estrutura contextualmente no mundo.
Efectualmente, Sartre em sua crítica contundente aborda a idéia de nadificação usando a figura do divino, ou seja, aquele que é causa de si na intenção de chegar à idéia de um Deus contingente em oposição à idéia de perfeição divina propalada pela filosofia cristã tendo como fundamento a noção de possibilidade. Para tanto, ele assinala dois aspectos em que a noção de possibilidade ganha contornos nítidos em sua fenomenologia: primeiramente, a possibilidade enquanto é dada antes do ser, ou seja, realça a idéia possível da existência de Deus antes de todas as outras coisas. Segundo, a possibilidade enquanto é estrutura ontológica do real. No primeiro caso, ele utiliza a suposição de que Pedro morreu e apenas o testemunho de quem vivenciou a existência de Pedro (um amigo) pode dá conta da presença do possível existir de Pedro. Acontece que a suposta morte de Pedro tira o caráter essencial da existência que vem a ser justamente a contingência. Dito desse modo, Pedro não pode mais responder pela presença de si no mundo. O segundo caso é o oposto, visto que fala do ser enquanto possibilidade de está numa determinada situação que não a que se encontra. Tal caso comporta as meras suposições subjetivas do ser (ser um garçom, um justo, um mentiroso, etc.) no intuito de auferir uma compreensão da consciência como aniquilação da própria identidade.

Liberdade (absoluta X determinada)

O tema mais instigante e profundo no pensamento de Sartre, ainda que nos pareçam não apontar um consenso definido sobre o que seja realmente a liberdade (absoluta ou determinada?). Se por um lado, Sartre acredita que a liberdade não deve ter limites e nem mesmo se vincular a nenhuma moral, por outro, a questão da escolha e da responsabilidade implicam uma reflexão sobre como devemos agir, já que toda nossa escolha nos torna responsáveis por nós mesmos e por toda a humanidade. Assim, a minha responsabilidade em escolher é enorme, porque qualquer que seja a escolha, está situada numa condição original, pois não há atos gratuitos ou sem significação. Não há atos gratuitos porque a cada instante de escolha eu me desvelo, mesmo a escolha pela indiferença ou pela parcionalidade, porque eu estou escolhendo um mundo, o meu mundo e isso é assunto meu. Não há atos sem significação porque a escolha é sempre escolha de algo, mesmo que seja uma não-escolha, ainda assim estou escolhendo, uma vez que não sou livre para não-escolher, pois a escolha é uma escolha como possibilidade de sim ou não, mas nunca uma escolha da não-possiblidade.
Cada indivíduo se descobre livre na solidão da escolha, além do mais ninguém pode escolher por mim, sob pena de não ser mais um ato de minha escolha. Portanto, as minhas derrotas são tão humanas quanto as minhas vitórias. Nessa solidão da escolha, angústia é o sentimento constitutivo da existência. A escolha entre x, y, z é a realização do auto-projeto humano.
A liberdade de escolha implica a responsabilidade e intencionalidade da inteireza de cada conduta humana, pois manifesta a maneira de cada um doar sentido, significado ao real; ao mesmo tempo em que elucida o seu existir no mundo.
Má-fé – Uma das grandes inovações de Sartre foi ter introduzido o estudo da má-fé na perspectiva ontológica. Numa definição despretensiosa, o termo em questão surge como uma tentativa de fugir da angústia mascarando a própria condição de se ser livre. Quando o homem se coloca numa posição em que tudo o que lhe move, constrói ou torna-se condição de seu projetar é exterior a si mesmo, isto é, não provocado por si mesmo, está agindo de má-fé. Para Sartre, o homem que nega a sua responsabilidade diante da ação e da escolha é sempre um covarde que foge da realidade e embarca na doce ilusão de ser algo pronto. Má-fé então, constitui-se em tentativa frustrada de determinar a priori as ações humanas e de negar o valor do homem enquanto projeto livre e desembaraçado da subjetividade divina. Alguns termos são erroneamente utilizados como sinônimos de má-fé como o fingimento e a mentira.

Para - Outro

Da notável contribuição de Sartre à filosofia e a literatura, esta se destaca. De início, o reconhecimento do outro se encontra no plano da experiência do mundo quotidiano quando o para-si descobre a inexorável realidade da existência do outro. Logo, percebe-se que essas dimensões transfenomênicas ao serem pensadas conjuntamente, implicam a realidade humana que segundo Sartre é o para-si-para - outro.
A problemática da ontologia do outro se encontra muito bem descrita na terceira parte da obra O ser e o nada. É nessa parte da obra que Sartre a discussão sobre o assunto abordado. O primeiro aspecto que vai justificar a relação de desafio e conflitos entre o eu e o outro é a questão da vergonha. Esta se destaca como a estrutura primeira que intermédia a relação conflituosa que há entre o eu e o outro. Assim, a vergonha em suas duas estruturas marca a apreensão inicial desta relação. Diz Sartre: “... a vergonha em sua estrutura primeira, é vergonha diante de alguém.” (Idem, Ibid: 289). Há também, a vergonha diante de si mesmo. Continua ele a sua exposição da presença do outro o colocando como “o mediador indispensável entre mim e mim mesmo: sinto vergonha de mim tal como apareço ao outro.” (Idem, Ibid: id). Porém, ele admite a necessidade do outro em seu ser para que haja a captação reflexiva das estruturas do ser. A experiência da vergonha, então, se constitui como uma das provas da existência do outro.
Mas o que me parece ser o aspecto mais interessante da relação entre o eu e o outro é a questão do olhar do outro. Nele, a relação existente supõe o ápice do regurgitar do conflito entre ambos. Neste caso, o que se abala aqui é a estrutura ontológica do eu, ocasionando aquilo que para Sartre codifica-se na chamada relação sujeito-objeto. Então o olhar do outro não é simplesmente um olhar que observa e vê algo ou alguém. Muito pelo contrário, evidencia-se a profundidade desta relação no reconhecimento de que este olhar é objetivador. Não é a toa que o outro é por princípio aquele que me olha, o que impõe a objetividade como condição da percepção dele.
Por último, vemos o corpo. No segundo capítulo da terceira parte da obra O ser e o nada, o filósofo francês se debruça sobre o problema do corpo após percorrer um itinerário que principia evocando o problema da existência do outro, passando pela crítica ao solipsismo e a questão do olhar, tudo isto numa perspectiva ontológica como bem sugere o subtítulo da obra.
Ao analisarmos a relação eu - outro é conveniente perceber que a dimensão ontológica enquanto marca desta relação aponta que o eu só toma consciência de si, do outro e do mundo quando o outro manifesta a sua aparição. Isto implica que a existência do eu não pode ser visto simplesmente numa como consciência reflexiva de si mesmo, muito pelo contrário, tem que ser descrito como consciência que se dar para os outros. Neste sentido, Sartre vai propor uma ontologia do corpo em função da intersubjetividade.
Inicialmente ele explicita o problema do corpo colocando em questão o fato do mesmo ser pensado como algo exterior, físico e concreto em contraposição à noção de consciência como sendo interior, metafísico e contrário a qualquer possibilidade de ser concreto. É perceptível na relação consciência – corpo uma profunda preocupação de Sartre em abordar o corpo numa linguagem metodológico-descritiva, visto que a sua real intenção não é dar ao corpo o status de um objeto, mas superar esta idéia e concebê-lo como elo necessário na relação eu – outro.
Para tanto, ele funda três dimensões ontológicas para o corpo: A primeira dimensão coloca o corpo na facticidade, isto é, no mundo mesmo, o que implica que o eu se apreenda como responsável por si e pela contingência do mundo. Além do mais, é precisamente através do corpo que se tem acesso à facticidade da consciência. A facticidade nada mais é que a condição primordial que possibilita ou não a escolha das circunstâncias que açambarca a realidade humana. Já a segunda dimensão ontológica (o corpo para o outro), aponta dois pressupostos: 1° o reconhecimento do corpo do outro e 2° o devotamento ao corpo do outro. No primeiro pressuposto, ao se utilizar do corpo do outro, o eu se reconhece no sentido intramundano como individuação e engajamento. O segundo pressuposto aponta o quanto o outro objetiva o eu a partir do próprio corpo. É a afirmação da frase: eu sou escravo do corpo do outro. A terceira dimensão ontológica como as duas anteriores justificam a relação fundamental eu – outro a partir do instante em que a influência do olhar se sobrepõe e o corpo é revelado como ser – objeto. Assim das três dimensões ontológicas citadas, percebemos como resultado uma outra dimensão que aponta para o reconhecimento da existência do eu a partir do instante em que o outro conhece o seu corpo. Ora, então se torna claro que o outro também passa a ter sua existência reconhecida, já que trava uma profunda relação com o eu cuja marca original é o conflito.
Por fim, Sartre vai buscar a resposta na origem das relações concretas entre o eu e o outro. A reflexão do filósofo francês acerca da concretização da relação eu – outro aponta para duas atitudes inteiramente opostas: primeiro, o eu assimila o outro e segundo, o eu é objetivado pelo outro. No primeiro caso, percebe-se a tentativa do eu assimilar a consciência do outro. Constituem-se como tentativas de assimilação, o amor, a linguagem e o masoquismo. Dentro deste grupo, o amor é o que mais parece se aproximar da condição de estabelecimento de unificação com o outro, no entanto, sem alcançar a unidade. Já no segundo caso que advém segundo Sartre do fracasso do primeiro, nota-se que o eu tenta se afirmar livre frente ao outro, aniquilando a sua liberdade a partir dos elementos como a indiferença, o desejo, o ódio e o sadismo. O caso que mais se destaca é o do desejo, sobretudo, o sexual, que implica uma tentativa original do eu tomar posse da subjetividade do outro, fazendo com que ele se torne objeto. Então, é no desejo pelo outro ou ainda na captação do desejo que o outro nutre pelo eu que se caracteriza a apreensão primordial da sexualidade. Mas no pensamento de Sartre, é visível a idéia de que ambos os casos estão fadados ao fracasso e é apenas no conflito que se vislumbra a possibilidade viável de contornar esses problemas.

Referências bibliográficas

Obras de Sartre

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 1998.
______. A náusea. Trad. Rita Braga. São Paulo: Nova Fronteira, 1986.
______. O muro. 9° ed. Trad. H. Alcântara Silveira. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1977.

Obras de outros autores consultadas.

BORNHEIM, Gerd Albert. Sartre: metafísica e existencialismo. São Paulo: perspectiva, 1971.
JOLIVET, Régis. A Doutrina Existencialista. Porto: Livraria Tavares Martins, 1961.
KIERKEGAARD, S. O conceito de angústia. São Paulo: Hemus, 1968.
SILVA, Franklin Leopoldo. Ética e literatura em Sartre: ensaios introdutórios. São Paulo: Ed. Unesp, 2003.

Ps: Pintura de Henrik Hagtvedt
Carlos Henrique Carvalho

sábado, 13 de dezembro de 2008

Intensamente Sartre



"Todo o existente nasce sem razão, prolonga-se por fraqueza e morre por acaso". SARTRE. A Náusea(1931).

Uma das mais intensas e controversas personalidades do século XX, assim podemos descrever o francês Jean-Paul Sartre. Entre os anos 1940 e 1970 ele foi o rei da polêmica, sempre tomando partido dos menos desfavorecidos e injustiçados no mundo. Posicionou-se contra o governo do seu país na questão Argélia, contra o imperialismo praticado pela corrente do mal EUA e Gra-Bretanha, a opressão aos negros e o envolvimento com as questões judaicas e palestinas.

Sartre foi um intelectual carismático que soube defender o existencialismo com unhas e dentes das polêmicas ideológicas e conceituais com os cristãos e marxistas. Além disso se tornou conhecido como o mais ferrenho defensor da liberdade humana, contra todas as formas de imposições e agressões aos direitos humanos. Nomeado presidente do tribunal internacional Russel para julgar crimes dos EUA no Vietnã, portou-se sempre como um sujeito que sabia o que fazer diante de um mundo feio, sujo e mau.

Não tenha dúvida, era o tipo de figura que nossos avós e pais paravam para escutar ou ler algo ao seu respeito. Não falarei neste texto do Sartre filósofo, mas quero apenas brevemente enaltecer a sua importância para àqueles que acreditam se tratar de alguém com idéias defasadas pelo tempo e a evolução do conhecimento tecnico-cientifico. Para tanto, faço uso das palavras do professor Odílio Alves Aguiar (UFC) que podem ser encontrada na orelha da Revista Cadernos Sartre, publicação do Grupo de Estudos Sartre da UECE da qual tenho orgulho em fazer parte.

"Se vivemos sob o signo do automatismo dos mercados e essa situação é posta como um destino, pensar com Sartre hoje significa que podemos pensar e agir de forma a transcender essa situação. Na perspectiva de Sartre, enquanto existirem homens, por mais complexa e manipuladora que seja a situação deles, será possível o exercício da liberdade, pois esse é o horizonte ontológico que constitui a condição humana".

Nesta semana em que a declaração universal dos Direitos Humanos completou 60 anos, ao ser adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, nada mais adequado que relembrar o nome e a figura histórica e intensa de Jean-Paul Sartre.

Carlos Henrique Carvalho

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O quarto azul



Entre o desejo e a força da vida.
O olhar afoito em direção ao vazio
E ao corpo teu que fere o meu espaço,
Incomoda e expulsa a dor na razão.

Ó céu! Esqueci por completo sua cor,
Ao reduzir minha existência ao quarto azul.
Fugi do confronto que em meu peito explodia,
E fazia esse louco desejo parecer vilania.

No quarto azul sou livre e extenso,
Dono de todos os sonhos do mundo ingrato,
Mas refém de suas paredes sem mácula.

Vivo esta existência da dor e do amor,
Liberto no recanto de livros e parafernálias,
Vou tecendo os rumos do mundo no quarto azul.

Carlos Henrique Carvalho

domingo, 7 de dezembro de 2008

Os dados de um desastre


A defesa Civil de Santa Catarina sempre vem atualizando seus dados da tragédia causada pelas chuvas ocorrida em grande parte do Estado. Foi criado inclusive um site especificamente voltado para a divulgação detalhada e bastante descritiva deste trágico dilúvio contemporâneo: http://www.desastre.sc.gov.br/.
A partir do momento em que pararam as chuvas, as doações de todos os estados do Brasil começaram a chegar em peso a todos os municípios atingidos com a mobilização de diversos setores da sociedade civil, do Estado e de empresas privadas que vem contribuindo como pode para amenizar a dor de quem perdeu tudo o que tinha.
O resumo do desastre atualizado às 13:15 do dia 07/12/08 acusa o registro de 32.946 desalojados e desabrigados, sendo 5.710 desabrigados e 27.236 desalojados. Até o presente instante foram constatados 122 ÓBITOS e 29 desaparecidos.

Mais dados podem ser obtidos em:

http://webimprensa.sc.gov.br/paginas/index.asp

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Embromação a rodo.


Quem nunca tentou cancelar desesperadamente um serviço, seja ele qual for? A tentativa de cancelamento do serviço do cartão de crédito, da operadora de telefone, da internet e de outro que porventura seja necesário à vida cotidiana sempre foi um tormento crucial na vida de tanta gente.

Acontece que desde ontem todas as empresas tiveram que se adequar às normas do consumidor. Tiveram, mas a ampla maioria não se adequaram de modo algum, deixando boa parte dos consumidores com cara de otário. Os atrasos continuam, as embromações aumentam a rodo e as empresaas brincam com a lei crente que a mesma não tem valor.

Enquanto isso, o Ministério da Justiça pretende notificar nesta semana cerca de 50 empresas de setores afetados pelas novas regras de funcionamento dos call centers para que expliquem porque deixaram de lado uma consulta feita pelos Procons estaduais para saber se elas estavam se preparando para cumprir as normas.

Ao longo de novembro, os órgãos estaduais de defesa do consumidor de 12 Estados e do Distrito Federal enviaram 557 ofícios a 140 empresas de diversos setores, com perguntas sobre os procedimentos que deveriam ser adotados para atender às exigências, como a que determina que não pode passar de um minuto o tempo de espera do consumidor. Apenas 47,4% dos ofícios foram respondidos.

“As normas foram discutidas por um ano e as empresas tiveram seis meses para se adaptar. Não dá para alegar que o tempo foi curto”, diz Evandro Zuliani, diretor de atendimento do Procon-SP. Segundo ele, ainda não há um balanço sobre a adequação das companhias às regras. Porém, um levantamento feito pela entidade há dez dias, com 68 empresas, mostrou que a maioria ainda tinha itens em desacordo com a legislação. Para garantir o cumprimento do decreto e, se necessário, aplicar punições, o Procon-SP está testando, nesta semana, os serviços das empresas. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também tem feito simulações, como clientes, para verificar o cumprimento das regras.

Vamos ver até onde vai esta palhaçada das multinacionais vorazes e pretensiosas que brincam com a lei e dar sempre um chá de cadeira no consumidor pelo país afora, sem contar os péssimos serviços prestados e as cobranças abusivas que continuam se perpertuando neste país, eterno terceiro-mundista.

Para saber mais leia os jornais de hoje e acompanhem os telejornais, os programas políticos nas rádios porque esse assunto ainda vai render muito mais.

Carlos Henrique Carvalho

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Chuvas sem fim em Santa Catarina



Até o presente momento a Defesa Civil do Estado de Santa Catarina informa que as chuvas já causaram 99 mortes e afetaram mais de 1,5 milhão de habitantes no Estado. Até as 21h50, 19 pessoas estavam desaparecidas e 78.707 estavam desalojadas ou desabrigadas. É possível ver no site o nome das pessoas que faleceram em virtude da força da natureza.

Doze municípios estão em situação de calamidade pública, segundo decreto assinado na quarta-feira pelo governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira. São eles: Benedito Novo, Blumenau, Brusque, Camboriú, Gaspar, llhota, Itajaí, Itapoá, Luiz Alves, Nova Trento, Rio dos Cedros e Rodeio. Nesta quinta-feira o governo decretou luto de três dias.

Ainda segundo o site, a tendência são que as intensas chuvas continuem caindo no fim de semana nestes municípios.


Para saber mais veja em:
http://www.defesacivil.sc.gov.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

Carlos Henrique Carvalho

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A procura do ser do homem II


As meras ciências de fato criam meros homens de fato. A revolução do comportamento geral do público foi inevitável, especialmente depois da guerra, e sabemos que na geração mais recente ela se transformou até em um estado de espírito hostil. Na miséria de nossa vida –ouve-se dizer– esta ciência nada tem a dizer-nos. Ela exclui de princípio justamente os problemas que são os mais perturbadores do homem, o qual, em nossos tempos atormentados, sente-se entregue ao sabor do destino: os problemas do sentido e do não-sentido [absurdo] da existência humana em seu conjunto… [Edmund Husserl, em A crise da ciência européia e a fenomenologia transcendental, v. 1]

A temática deste texto não obstante implicar uma complexidade natural quando se trata de compreender o pensamento e o método de um autor como Edmund Husserl, implica também a dificuldade de entender o que é o homem e em que sentido é possível conhece-lo, compreende-lo, vivenciá-lo. Sabemos que Husserl, fundador do método fenomenológico nos fornece muitas questões sobre o problema do homem no mundo ou dito numa linguagem formal, do problema do sujeito e sua relação com a existência.

No entanto, apesar de tudo, não temos a solução do problema. De fato, o homem é um ser que continua em permanente estado de buscar a si mesmo, pois não reside nele, uma unidade sintética capaz de defini-lo como um fundamento que determina suas razões, sua natureza e suas ações.

A fenomenologia como método de pesquisa surge com uma forte crítica a modernidade e a ciência quando esta percebeu o sintoma de desorientação e perda de sentido. Então era preciso encontrar uma solução para esta situação. Os contemporâneos acreditam que é impossível pensar a vida humana e social e uma conseqüente criação de sentido sem afirmar que é inalienável à vida, o trágico (consciência de mortalidade, de limitação, de perda, de limite, de finitude).

Por sua vez, molda seu pensamento como uma reação à psicologia e ao positivismo que esqueceu de postular a vida enquanto tal ao propor uma idealização de mundo que não abarca a amplitude de nossa existência. Para termos uma idéia mais clara do que digo, basta pegarmos o lema da bandeira nacional brasileira – Ordem e progresso – e fazer o seguinte questionamento; vivemos realmente numa nação que otimiza um progresso no bem-estar do seu povo? O que vemos no nosso país é realmente o que esperávamos? Quando nos deparamos com a situação de miserabilidade e falta de um bem-estar, tomamos a noção do quão distante estamos de comungar a tese da ordem e do progresso.

Mas o que nos interessa mesmo é entender o fio condutor da questão – o ser do homem –e para isso é necessário recorrer a um aspecto revelador da fenomenologia no seu caráter de conhecedora da realidade: a contingência. O que vem a ser precisamente esta? Uma primeira resposta, parcial, diga-se de passagem, interpreta a contingência como o mundo vivido, o exterior, sobre o qual os fatos se dão e de onde emerge o homem como corpo e consciência. Então, o ser que busca no homem pode ser entendido – não necessariamente encontrado - por suas relações situadas no feixe social, cultural ou mesmo indeterminadas isto é, construídas ao longo da existência.

Mas que homem é este que tanto procuramos e não o encontramos, senão por meio do seu corpo no mundo? Será o homem um ser real? Aliás, a que corresponde à realidade? A idéia de uma coisa, a coisa enquanto tal ou ambas são marcadas por uma correlação inextrincável? É exatamente aí que se insere o projeto de Husserl para a compreensão do universo humano, isto é a condição humana.

Para tanto, a fenomenologia se transforma numa espécie de método que faz a mediação entre o sujeito e o objeto ou, dizendo de outro modo, entre o eu e a coisa. Quando tomamos o sujeito como pólo centralizador da compreensão do mundo vivido. Assim, a fenomenologia é uma descrição da estrutura específica do fenômeno , aparecendo como condição de possibilidade do conhecimento na medida em que a consciência constitui as significações no nível da apreensão empírica ou da constituição transcendental dos objetos. De fato, o projeto fenomenológico husserliano depende de que se compreenda também como o filósofo apresenta a estrutura da consciência enquanto intencionalidade. Este conceito oriundo da filosofia medieval significa dirigir-se para, visar alguma coisa .

O que podemos dizer sobre a intencionalidade? Quando uma coisa é intencional? Quando agimos de propósito? Quando temos consciência do que fazemos? Quando queremos ou desejamos qualquer coisa que não temos? Quando percebemos a distância entre nossos sonhos e a realidade que nos cerca?

A consciência é intencional significa que “toda consciência é consciência de“. Logo, a consciência não é uma substância (alma), mas uma atividade constituída por atos (percepção, imaginação, especulação, volição, paixão, etc), com as quais visa algo. Assim, a consciência não é mais uma essência ou uma entidade, independente e abstrata, mas é seu próprio “conteúdo” que a funda. Em suas Investigações lógicas, Husserl deixava claro que “na percepção algo é percebido, na imaginação algo é imaginado, na enunciação algo é enunciado, no ódio algo é odiado, no desejo algo é desejado, etc.”. A afirmação de que a consciência não percebe no vazio, mas sempre a partir de alguma coisa corresponde a uma definição mais precisa desta como perspectiva. Perceber é ter uma intenção.

Nesse sentido, o ser do homem busca uma conexão relacional entre o que deseja e o que vive de fato. Mas sabemos que quase sempre a busca pelo o que desejamos é frustrada pela nossa desorientação diante do mundo. São tantas coisas a serem desejadas que perdemos a noção do que queremos para si. Então passamos a tomar tudo que estiver ao nosso alcance visando superar a nossa inexorável falta constitutiva, isto é, a carência, seja na ordem, da materialidade, seja na ordem da afetividade. Pois, o homem é um ser que convive constantemente com esse vazio de ser o que não é e buscar o que supostamente possa suprir essa falta. Logo, a intensidade entre o que desejamos ser e o que conseguimos ter nos conduz a uma busca sem trégua de si mesmo não como sujeito reais que assume na escolha livre a sua posição no mundo, mas como pessoa inserida num plano social-cultural seguidoras de regras próprias do sistema em que vive.

É precisamente a isso que a fenomenologia vai se contrapor. Ao tomar noção de que os problemas precisam ser vivenciados e encarados na sua realidade, ela se estabelece como método que ressalta a importância de tomar uma postura que possibilite a compreensão dos problemas, ainda que como já dito, sem a garantia de resolvê-los. O sujeito então, responsável e ciente da sua contingência, suspende ou coloca entre parênteses todo e qualquer tipo de juízo acerca daquilo que o reduz ao “ter”. Para isso, Husserl propõe a tese da redução fenomenológica que se trata de uma conversão do olhar que nos permite chegar ao objeto vivendo-o segundo seu sentido para nós, segundo o valor que lhe atribuímos e sobre o qual não negamos nossa responsabilidade.

Sem dúvida, é fundamentalmente necessário se quisermos entender porque buscamos tanto nosso ser no mundo e não o encontramos que se rejeite a imposição de qualquer sistema; para que se tenha acesso à realidade das coisas, fenômenos de modo que possa submetê-lo a si próprio.

Enquanto isso, a pergunta “o que é ser verdadeiramente homem?” permanece irrespondível, pois o homem é antes de tudo, um ser em aberto, em permanente processo de descobertas de si mesmo, do mundo e de tudo o que o cerca. Assim, a fenomenologia tece uma contribuição fundamental para este entendimento, já que por propor uma descrição direta da experiência tal como ela é; por demonstrar como a realidade é construída socialmente e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado e, também, que existem tantas realidades quantas forem suas interpretações e comunicações. Todavia, estamos no limiar de um projeto que se converte na procura pelo ser do homem a cada momento, a cada acontecimento, a cada ruptura que o homem provoca nessa busca incessante pela sua existência, como um projeto incompleto e inacabado de si mesmo.

Imagem: Gilbert Garcin. Identité.]

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Um libelo à saudade



Acuso sem dó esta saudade,
Pois meu coração agoniza sem você,
Esses olhos não cessam de procurar,
Tua presença intensa na multidão.

Culpo somente esta saudade,
Pois eis que nunca te encontro,
E a saudade quase me mata.
Vivo a esmo sufocado, mas não morro.

Julgo esta saudade infame,
Que martiriza o pobre coração agonizado,
Ao lembrar os teus carinhos na face,
e dos loucos beijos numa noite acalorada.

Condeno esta saudade que é um mal.
Porque longe de você esqueci como viver,
Mas se esta saudade não é piedosa,
Por que sem meu amor serei condescendente?

Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A política estadunindense e os rumos no mundo


"O charme da história e sua lição enigmática consiste no fato de que, de tempos em tempos, nada muda e mesmo assim tudo é completamente diferente". (Aldous Huxley)

Vivenciamos por alguns meses, as eleições mais barulhentas e dispendiosas dos EUA, culminando com a vitória do candidato democrata, por sinal, o primeiro negro eleito para comandar o país mais odiado do mundo. O circo polítco montado na América do norte seduziu o povo de lá e deu a Barack Obama a responsabilidade de conduzir uma nação em constante conflito com o restante do planeta. Lider do Conselho de Segurança da ONU composto pelos 5 países (EUA, China, França, Reino Unido e Russia) que mais compram e fabricam armamentos militares mais 10 membros rotativos com direito a participação no Conselho por 2 anos.
Só para inteirar os leitores, a política dos EUA é distinta da política praticada no país tupiniquim, isto é, nosso Brasil. Enquanto por aqui prolferam partidos de todas as espécies, por lá, ou se é democrata (menos conservador) ou se é republicano(muito conservador).
Mas independente ou não dessa onda chamada Obama, a situação do mundo continua em permanente caos e e os EUA não deixarão de ser o país mais odiado do mundo. De fato, a grande parte dos países do planeta que mantém uma relação de ódio com os EUA são precisamente aqueles que mais sofreram imposições e agressões infindáveis. No centro das atenções destaco os países de cultura muçulmana que sempre mantiveram relações complicadas com os países ocidentais, mormente, os que atuam na base da força e da violência como faz a nação estadunindese.
Acredito que a eleição de um negro num país tradicionalmente racista não virá a contribuir para a minimização do mal-estar no mundo, embora, em princípio, possa parecer que haverá uma mudança no panorama das relações dos EUA com os países tradicionalmente contrário a forma de fazer política desta nação.
Minha profunda preocupação com os rumos da política que os EUA pretendem adotar daqui em diante fará sentido caso venha a ferir a soberania dos países sul-americanos com a usurpação de terras e riquezas vegetais brasileiras ou as riquezas minerais e petrolíferas venezuelana. Enquanto isso, o mundo fica preocupado com o que poderá ocorrer nos próximos anos em vista das ações que os EUA perpetrarão.
No mais, o tempo e as ações dirão se tal eleição foi ou não positiva para o mundo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A procura do ser do homem



"O que seria de uma consciência se não houvesse outra com a qual dividir seus anseios, suas dores e alegrias?"

As experiências formam o espaço da construção da maturidade e do saber do homem. Não podemos assumir a pretensão de conhecer nem nos arrogar ao direito de saber senão tivermos antes de qualquer coisa, a evidência do que sentimos, vivemos e construimos ao longo da existência.
No que eu quero pensar?
Do que preciso para viver?
O que me resta lutar ou esperar?
Aonde posso encontrar o que tanto busco?
Essas indagações se manifestam sempre a cada momento que descubro o turbilhão de idéias que povoam a consciência. Não há como atenuar o encontro com o complexo e o desconhecido. Assumir uma postura trágica da vida é também admitir que a realidade não é flor que se cheire. É uma obscuridade entre tantas dores e crises sem fim.
No mundo falta espaço para respirar, não há mais por onde caminhar sem tropeçar nos cadafalsos do fracasso. Afinal, há uma realidade ou sentidos de mundo que as consciências atribuem ao que acham mais conveniente?
Continuo na procura do ser do homem...

Escrito e postado em Sobral no dia 03/11/08

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O lado B da política


"Se os comunistas têm razão, então eu sou o louco mais solitário em vida. Se eles estão errados, então não há esperança para o mundo." [ Jean-Paul Sartre ]

A cada dia que passa fico menos surpreendido e estupefato com a situação da política no mundo, mergulhado no enigma do labirinto infindável, marcada por alianças sem fundamentos, de jogos estapafúrdios, de artimanhas cuja finalidade é una: sustentar o poder a qualquer custo. A política muda sempre no sentido anti-horário, no caminho do retrocesso; é sempre um campo minado repleto de condições complexas que põe o homem em situações extremas exigindo ações enérgicas e eficazes.

Em se tratando de ação política não se pode comungar uma ética que siga com seriedade a tese de que a coisa pública é de todos. Por isso, podemos eleger toda a sorte de políticos(pessoas) possíveis, que não teremos a garantia de uma boa administração dos bens públicos, senão, corremos riscos de a "res publica"- o que é de todos - ser sempre algo particular.

Da fato, a finalidade do sujeito político tem sido no contexto geral, a do conforto particular. Procura os meios de satisfazer a si mesmo, ainda que os discursos, cada vez mais moralistas, valham para os outros, não para ele. Acho que todo mundo já deve ter se perguntado: o que é um político? Se for lícito dar uma resposta, fico sem saber responder a contento, haja vista a gama de controvérsias que existem para determinar o que pode ser. Ainda assim, posso apontar algumas colocações que nos servem de mote para a reflexão:
- O político deve ser um líder, altruísta e acima de tudo representar a vontade do povo.
- O político é uma sumidade porque sua ação provoca uma estrondosa reação e sua inércia é um pecado para a qual não se tem perdão.
- O político é naturalmente carismático, atrai a atenção de todos com o seu modo de falar e agir, com ou sem pudores.

Mas na prática o político é aquele sujeito que a cada 2 anos, durante os pleitos municipais ou federais caminha de mãos dadas com o povo, mas ao passar este período age que nem Pôncio Pilatos - figurinha carimbada na história biblica-, lava as mãos e expia suas culpas, esquecendo o povo e relegando-o ao sumo ostracismo. O político é como um cofre cheio de senhas e segredos que vive num castelo de areias e age rodeado de malícias e mentiras, diz uma coisa mas faz outra, isto é, conspira, troca favores, faz coligações com Deus e o diabo ao mesmo tempo.

O problema da política é que tem gente demais querendo ser político, mas quase ninguém comprometido com a "res publica". Ser político é sinônimo de um emprego com garantias de pomposos recursos públicos e salários estratosféricos, considerando a realidade brasileira e mundial. Daí se justifica porque tanta gente se "arriscam" candidatar a um cargo público.

Nesse caso resta uma indagação: Será que alguém se candidataria se o salário oferecido fosse mínimo e os benefícios fossem os mesmos que um trabalhador recebe?

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Difícil é...



"Porquanto tudo é difícil sem você."

Difícil é ter que esconder,
O que passou furiosamente como um raio,
Voltar a construir o inacabado,
Tentar esquecer aquele amor,
Fazer da vida sempre um novo amor.

Não é fácil aceitar e simplesmente procurar,
Os outros caminhos tardios,
O que resta de você,
São pedaços partidos, fragmentos de um sonho,
Que o coração tresloucado deixou na saudade.

Todas as noites claras vividas,
Mostra o retrato de minha imagem agredida.
Tantas vezes olhava acima,
contemplava as nuvens eternas,
Mas me via perdido em todos o sentidos.

Tudo era tão simples, mas nada dizia,
Mudava o mundo, mas nunca a vida,
Emperrava sempre nos singelos obstáculos,
vivia como um peixinho
Fora de sua única morada.

Difícil é formar um lado,
Quando se sabe que existem dois,
e perde-se na escolha certa.
Impossivel é viver sem um amor,
Procurar e jamais encontrar.

Termino no princípio da vida,
Sei que conviver com este desejo não é fácil.
Difícil é contemplar uma imagem,
Guardar teu retrato na saudade,
Sem nunca ter gostado de você.

Ps: Poema escrito em 03/01/1998.
Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Perigo à vista na Beira-mar


Outrora berço de poetas e artistas, que com sua espontaneidade cantaram em torno da beleza do céu e do mar que banha nossa cidade, a Beira - mar mostra novamente porque declinou como local apropriado para a prática do lazer e se tornou lugar comum para bandidos de todas as espécies fazerem a "festa".
Nesta semana foi amplamente noticiado a falta de segurança num dos locais mais frequentados por turistas e cidadãos cearenses. A repercusão nacional da insegurança que grassa por nossas bandas nos faz cair na dura realidade de um projeto pomposo- Ronda do Quarteirão - que até agora tem tido sua eficácia contestada. Rebatendo na mesma tecla, os altos gastos feitos até o momento não vem condizendo com a sensação de segurança que nós precisamos sentir e ver.
Para termos uma idéia, os patinetes adquiridos pelo Governo do Estado do Ceará, no valor de R$ 28 mil cada, até onde se consta não tem tido utilidade para os policiais na prevenção e no combate aos assaltos. No vídeo exibido pelo Jornal do 10 da TV Verdes Mares - afiliada da Rede Globo - dois policiais se chocam ao cruzarem os pneus dos patinetes e um deles cai ridicularmente. Mas a cena mesmo sendo patética mostra apenas o profundo despreparo dos policiais em lidar com um equipamento desse tipo, por sinal, caro e oneroso.
Pelo visto, nosso Estado tem muito dinheiro para gastar com essas engenhocas contemporâneas, mas falta sempre políticas públicas eficazes para acabar com a falta de vagas nas escolas, a lotação nos hospitais e a promoção de uma sociedade menos desigual. Realmente, rimos para não chorar, porque vão as nossas bolsas, nossos bens, mas rezamos para a vida ficar.
No mais, um governo que vem se promovendo por puro marketing e pouca ação, não obstante se passar por rídiculo corre sério risco de se afundar no ostracismo e na inoperância.

Carlos Henrique Carvalho

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Os beijos teus.



Numa noite fria, um beijo acontecia,
e nossas almas se puseram a cantar,
Mas o que meu coração louco não sabia
É que impetuosamente passaria a te amar.

Jamais! tão louco aquele dia,
Em que lutava contra um desejo insano,
Quanto mais tentava, menos fugia,
A noite faz da nossa vida um doce encanto.

Por mais que passe o tempo nunca esqueço,
Os beijos teus estão eternizados no recôndito da memória,
E a canção em que dançávamos ao revoar faz nossa história.

Nem o pior dos tempos é capaz de enegrecer o céu do Mucuripe,
Nem mesmo a saudade é dona de minha vida,
Porque encontrei em você o recanto mais belo do viver.

sábado, 27 de setembro de 2008

Tempos de sonhos



Todos são partes integrantes de uma mesma história, de uma luta inacabável, por vezes, quase perdida; de um pedaço de terra nunca pertencente a nós, sob as égides de um Estado desfigurado pelas suas crenças, marca indômita de um país chamado Brasil.
Não se pode crer numa derrota, sem ao menos ter conhecido o ardil da batalha. Tampouco, fugir do destino que nos foi (in)lícito escolher. Quem disse que somos os sustentáculos da história? Somos quem carrega os fardos de tantos erros cometidos. Mas os incansáveis jamais se entregam aos fardos e as pequenas sombras do mundo ainda hão de dominar o futuro.
Enquanto isso, curamos nossas almas doentes, esperando os prováveis aliados. Seremos grandes perante a história ou continuaremos a viver a esmo, rumos desconhecidos?
Superaremos a cruel dúvida de uma existência digna ou permaneceremos num descaminho entre a miséria e o sonho?
...
Imagem: Sonhos dourados de Joel santos

domingo, 31 de agosto de 2008

PAUSA

O blog vem passando por um período de poucas postagens em função dos muitos trabalhos acumulados neste semestre, o que me impede de postar pelo menos duas vezes por semana. Por isso, estou momentanemente afastado deste espaço. Mas após o evento "Centenário dos franceses Merleau-Ponty e Simone de Beauvoir - Resistência, arte e contracultura", voltarei com força a trabalhar a criticidade e poética em todas as suas amplitudes.

Um singelo abraço a todos que visitam este espaço.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O corpo estetizado nas Olimpíadas


"Transformado em espetáculo pelos meios de comunicação, o esporte, enquanto
signo da sociedade contemporânea, remete a imagem de viver bem, estar bem
consigo, ser vitorioso, transmitido como ideais a serem atingidos pela média da
população.[...] o esporte, visto como mais um produto de consumo, precisa criar
protagonistas para vender em espetáculo esperado e desejado".(RÚBIO,2001,p.103).

Aproveitando o embalo das Olimpíadas de Pequim 2008 e de mais um fracasso brasileiro numa competição desse porte, venho a refletir sobre a relação entre a prática esportiva como valorização do sucesso e a otimização da performace dos atletas, que dispõe de todos os tipos de medicamentos e produtos a fim de tornar o corpo mais forte, resistente e "belo".
Reconheço que em competições individuais, a performace de um atleta resulta sempre numa pressão maior em relação às compertições coletivas. Por exemplo, numa competição de levantamento de peso ou salto com vara, somente um atleta tem condição de competir e chamar a atenção da mídia e do seu país de origem, como um exemplo de atleta de vitorioso, um herói. E isso traz uma pressão que exige frieza emocional e racionalidade em sua ação, o que raramente ocorre em esportes coletivos (futebol, volei, basquete etc.) na qual as responsabilidades são divididas e a culpa pelo fracasso também. No entanto, tornou-se comum que muitos desses atletas no afã de tornar-se reconhecido como um vencedor, acaba por destituir-se de moral e/ou virtude, passa a utilizar drogas e criar uma sobrecarga de treinamentos que o corpo não suporta por muito tempo. Quem acompanha essas olímpiadas deve ter notado inúmeros atletas abandonando as competições por falta de fôlego ou contusões que variam das mais simples às gravíssimas, desencadeando um sentimento de vazio, de frustração.
Acontece que o corpo não é uma máquina e jamais deve ser tratada como tal; é preciso superar esse discurso "inquestionável" de que o corpo sempre suporta mais um pouco e aceitar de uma vez que todos os atletas são humanos e falhos, o que não os impede de ser um vencedor. É necessário ir além da cultura da imagem do eu, que estabelece a hegemonia da aparência, que passa a se constituir critério fundamental do ser.
Assim, o atleta passa a valer pela sua aparência, de acordo com as imagens produzidas para se apresentar na cena social. Nesse sentido, a mídia cumpre um papel de destaque nessa configuração, pois, com seu culto às celebridades, alimenta os sonhos narcisistas de fama e glória do homem comum que, identificado com esse discurso, sente dificuldade em aceitar a banalidade da existência cotidiana.
Claro que a máxima apregoada pelo Barão Pierre de Coubertin (1863-1937) - "o importante é competir" - não passa de uma utopia poética. Mas isso não é motivo para que uma vitória ocorra na base do uso de drogas ou de fraude, isto é, competir a qualquer custo tem produzido muitos resultados frustrantes. O triunfo não está simplesmente numa vitória, na medalha olímpica, mas no aprendizado que uma competição pode gerar, como uma experiência inesquecível que supera qualquer noção de que o corpo é a única identidade real do sujeito.


Para conhecer mais sugiro uma bibliografia:
LIPOVETSKY, G. O Crepúsculo do Dever. Lisboa: Dom Quixote, 1994.
RÚBIO, K. O Atleta e o Mito do Herói. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001

domingo, 17 de agosto de 2008

Reviver você



Guardei teu mais lindo sorriso,
Na moldura de um porta - retrato,
Relembrado pela chama da saudade.

Pois quando um dia o tempo despertou,
A mácula do amor inacabado,
Sofreu meu coração a tua ausência.

E ainda dilacera a dor no peito,
Pela distância que separa nossas almas,
Então vivemos eternamente a fugir da dor.

Quando muitos momentos se vão,
Lembro daquele lindo olhar,
Guardado na fronte dos meus sonhos.

É assim que tento reviver você em mim.

Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

E as olimpíadas começam


Em honra a Zeus, a Grécia se reunia a cada quatro anos no Peloponeso, na confluência dos rios Alfeu e Giadeo, onde se erguia a cidade de Olímpia, que a partir do ano 776 a.C. cedeu seu nome para aquele que viria a ser a maior competição esportiva em toda a história da humanidade, os Jogos Olímpicos - mais tarde, genericamente Olimpíadas - , que teve como primeiro vencedor o atleta Coroebus, cingido por uma coroa trançada por folhas de louro, único prêmio e símbolo da maior vitória.

Invadindo a era cristã (disputava-se a 194a olimpíada, quando nasceu Jesus Cristo), manteve seu espírito esportivo e seu condão mágico de unir homens fazendo-os disputar desafios, até o ano 394 d.C., quando o imperador Teodósio II ordenou sua interrupção, parecendo então condenada ao desaparecimento, a se transformar em um dado histórico apenas. E por quase 1500 anos (exatamente 1492) foi assim, até a intervenção de um idealista francês, o Barão Pierre de Cobertin.

A princípio, apenas homens eram admitidos na disputa, da qual passou a fazer parte, quase como um símbolo, uma homenagem perpétua dos Jogos à Grécia, a Maratona, corrida de fundo na distância de 42 quilômetros e 500 metros, a mesma percorrida por um soldado grego, que a correr levou até Atenas a notícia da vitória de seu exército na batalha Maratona, cidade da Ática, onde se combatiam os persas. Dada a notícia, caiu morto, tornando-se sinônimo da tenacidade.

Atenas foi escolhida pelo Barão de Cobertin com muita propriedade para a retomada dos Jogos Olímpicos em 1896, passando a serem conhecidos como os Jogos da Era Moderna. Uma era que já não dava ao desporto o poder de interromper guerras, mas, ao contrário, era interrompido por elas. Nestes cem anos, o quadriênio olímpico silenciou seu toque de reunir nos anos de 1916, 1940 e 1944, durante a vigência das chamadas Primeira e Segunda Guerras Mundiais.

Dos 13 países que participaram dos Jogos de 1896, em Atenas, aos 187 países e 10.788 atletas presentes em Atlanta, na 26a Olimpíada da Era Moderna, mudaram conceitos, o amadorismo puro foi esquecido, o mercantilismo encontra cada vez mais espaço, os países investem milhões de dólares em suas delegações, os Jogos são a melhor vitrine que os participantes poderiam ter e a máxima do Barão de Cobertin (Importante é competir, não vencer) está cada vez mais esquecida.

Mas, após cada Olimpíada, o mundo nunca mais é o mesmo.


Fonte: Texto gentilmente cedido por Gisele k Pereira e parcialmente retirado do site
http://www.birafitness.com/histdasolimpiadas.htm

Biblioteca Virtual - STI

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O lírico apaixonado



Oh! Esse lirismo que entoa na alma
Advém dos teus lábios a cantar,
Mas somente teus olhos parecem amar,
Posto que essa chama jamais acalma.

Porquanto tens uma beleza insofismável,
Que ampara a minha doce e inquieta esperança,
De tornar-te sempre incomparável,
Como num instante de afeto que teu olhar lança.

E ante o arremedo que dissipa a inspiração,
Ainda se escuta os lampejos da canção
De um lírico que se declara apaixonado.

Ah! Mas não! Sei que não é ilusão,
Pois pela força que pulsa meu coração,
Todos diriam que me encontro encantado.

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 15 de julho de 2008

O despreparo da polícia brasileira


Constantemente venho erigindo comentários e opiniões críticas sobre o problema da segurança pública no Brasil. Novamente, torno a bater na mesma tecla, desta vez enfatizando o profundo despreparo da polícia brasileira. Há alguns dias, notícias como "políciais atiram em carro de familia e mata criança de 3 anos" ou "PM que fazia bico de segurança mata brutalmente jovem" fez perceber o grave problema que afeta a sociedade: não temos uma política de segurança pública eficaz e preparada para minimizar a violência que assola em alto grau, nosso combalido país.
Se já não bastasse a corrupção, cuja dinheirama do contribuinte é desperdiçada à lodo em farras homéricas pelas esferas dos poderes executivo, legislativo e judiciario, temos que acordar todo dia com a difícl missão de sobreviver numa sociedade em que o policial é mais selvagem que o bandido e que se constata a cada dia que a polícia brasileira é a que mais mata no mundo.
Evidente que nesse caso costuma-se apontar culpados pelo fracasso desse jeito draconiano de fazer política no país e a falta de atitude política do povo e dos próprios responsáveis (figuras políticas) acabam trazendo a tona a mordaz verdade de que somos um povo passivo e ignorante para tomar uma atitude mais enérgica em relação a falta de um bem-estar social. Se não temos segurança, educação, moradia e saúde de qualidade, o que teremos na vida, afinal? O assassinato de uma criança, um jovem, um idoso, enfim, um homem. Seria muito prático imputar a culpa nos despreparados policiais brasileiros, mas sabemos que o problema é maior que isso. Há bons e maus policiais, não é a natureza que os fazem bom ou ruim, mas a própria falta de incentivo à sua formação pessoal e profissional.
No momento em que falta verbas e projetos de apoio para a formação de bons policiais, as consequências são as piores possíveis. As notícias do dia-a-dia não me deixa mentir. É triste escrever sobre essa realidade, que se diga claramente, é a realidade crua de um mundo feio, sujo e mau.

Para saber um pouco mais veja em:
http://br.noticias.yahoo.com/s/09072008/25/manchetes-policia-rio-janeiro-mata-no-mundo.html

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 8 de julho de 2008

Um breve pensar


Enquanto a vida passa, os versos povoam e ultrapassam as dores do mundo. Os sentimentos decaem, sob os mais pungentes olhares de um tempo perdido (além da hora, das manhãs, das noites).
E quanto mais a morte se apróxima, mais ainda fujo sob os ventos fatais que repuxam meus sonhos, diante de um barco a navegar sem rumo...

terça-feira, 1 de julho de 2008

O teu olhar


Esse jeito de olhar, doce encanto,
O teu sorriso, um desengano
Por onde voa, claro ou escuro,
Sempre de encontro procuro,
Aquele olhar que não arrefeceu,
Tão terno nunca se escondeu.

Esse olhar jamais me engana,
Nas manhãs de toda a vida,
Esteja sempre numa esquina,
hei de amar com meu ardor,
Longo e enigmático fervor,
O olhar puro de uma estrela.

Há tempo por onde vaga o desejo,
Cada detalhe visto perpetua o viver,
Mas somente teu olhar irradia o amanhecer.
Se das cores um dia falaste,
Jamais esqueceria quando olhaste
As belas paisagens que seduzem meu coração.

O que poderá entreter esse teu olhar?
Sonhos podados pelo coração,
Ou a primavera enfeitiçando a nação?
Olhai as flores do jardim,
Quando a viste entenderá como é simples,
Porque nunca esqueceste o teu olhar.

Escrito em 16/03/1998 por Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Como anda a "Ronda" no seu quarteirão?


Desde o início do projeto de segurança pública da Ronda do quarteirão, a "menina dos olhos" do Governo Cid, vinha me manifestando de uma forma quase acrítica, tendo em vista que os resultados não existiam, ainda que meu posicionamento quanto ao projeto em si fosse contrário, já que em tese, os pomposos recursos gastos não compensariam a manutenção do projeto.
Nesse caso, passado meio ano da implantação do projeto, o que podemos dizer? Que a sensação de segurança melhorou em virtude da beleza e qualidade dos carros que compõem o Ronda. Mas vamos aos fatos: segundo dados divulgados pela Comissão de Defesa Social da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, em seis meses o Ronda do Quarteirão já apreendeu 498 armas e fez 1869 flagrantes.
No entanto, é precipitação afirmar que a violência diminuiu, já que as estatísticas do primeiro semestre apontam que os homicídios não mudaram em relação aos anos anteriores. Nos primeiros 120 dias de 2007 ocorreram 321 homicídios na Grande Fortaleza e no mesmo período de 2008, 314 pessoas foram assassinadas. Ou seja, não houve melhora nem piora significativa, mas pelos gastos dispendiosos e a ênfase notória dada ao "Ronda" é obrigação do governo Cid mostrar resultados bem melhores que esses pífios números, (para não dizer impropérios) que nos chegam quase diariamente.
Enquanto isso, o mesmo governo negligencia a saúde e a educação que de tão carcomida, têm virado motivo de chacota como uma instituição fálica. Quem não sabe do que falo, basta dar uma voltinha nos arredores da UECE, UVA e URCA ou de um Centro "modelo" de Saúde que na mesma hora descobre.
Só espero sinceramente que esse projeto não seja mais uma mostra de que o dinheiro púbico foi desperdiçado, nem mais um dos mil trampolins políticos que existem para beneficiar oligarcas "esclarecidos".
Em todo o caso, continuarei a me situar quanto a eficácia ou não do projeto da Ronda do Quarteirão e, conforme sair dados concretos, colocarei um posicionamento mais seguro. Por isso, seria interessante a todos fiscalizarem e cobrarem resultados concretos das autoridades.
Assim, enquanto não houver um resultado que nos deixe seguro é cabível esse questionamento: como anda a Ronda no seu quarteirão?
Para conhecer mais veja em:

http://www.al.ce.gov.br/noticias/noticia_completa.php?tabela=noticias&codigo=6333

http://www.tvcanal13.com.br/noticias/fortaleza-registrou-314-assassinatos-em-120-dias-23198.asp

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 24 de junho de 2008

Notícia de hoje: Crescimento de fortunas



Caros amigos,

Uma vez por semana, pretendo colocar uma notícia que seja marcante ou tenha chamado a atenção por sua grandeza ou absurdidade. A notícia de hoje se encaixa em ambos os perfis, já que grandeza para os capitalistas é precisamente ter muito dinheiro e poder. Já para os que vivem contando as dores e as misérias da existência, a notícia se encaixa no eixo da absurdidade.
Eis-la então:

"PARIS (AFP) - A América Latina se tornou a terceira região do mundo onde houve o maior aumento do número de milionários em 2007, com o Brasil na liderança, de acordo com um estudo anual do banco americano Merrill Lynch e da consultoria de informática Capgemini, divulgado nesta terça-feira.
O mundo tem agora mais de 10 milhões de milionários, segundo o estudo, que destaca um aumento 6% em relação a 2006, quando havia 9,5 milhões.
Ocupando o terceiro lugar, com sua agricultura próspera, seus metais e o etanol, o Brasil, atrás da Índia e da China, é o país onde mais aumentou a quantidade de grandes fortunas (19,1%). No total, há 143 mil milionários brasileiros.
Em todo o mundo, a quantidade de "fortunas enormes" (mais de 30 milhões de dólares de patrimônio financeiro) aumentou ainda mais: 8,8%. No grupo dos "super-ricos", há 103.320 pessoas, segundo o estudo.
A fortuna acumulada de 10,1 milhões de milionários alcançou, em 2007, os 40,7 trilhões de dólares, ou seja, um aumento de 9,4% em relação a 2006, enquanto o crescimento mundial foi de apenas 5,1%.
Tanto no caso do Oriente Médio (+15,6%) e do Leste Europeu (+14,3%) - as duas regiões que lideram o ranking - como na América Latina (+12,2%), o progresso é resultado dos preços das matérias-primas e do desenvolvimento de novos mercados financeiros.
A entrada de capitais privados na América Latina duplicou em 2007. Nesse contexto, a Bolsa de São Paulo, com seu principal indicador, o Bovespa, ficou em quarto lugar mundial pela importância de suas ações e lucros".

Notícia na íntegra em: http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/fran__a_eua_amlat

Ps: Em tempo, falta apenas uma pesquisa que constate o aumento da pobreza e do número de miseráveis no mundo, já que a fortuna de uns poucos é quase sempre a ruína de muitos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Soneto do amor ardente


Enquanto a noite iluminada me seduzia,
Aos teus encantos me entregava loucamente,
Não era possível descrever o aparente,
Mas ao infinito docemente fugia.

Ao teu lado nunca conheci o pranto,
Que machuca os corações acelerados,
Senti sempre todos os encantos,
De um sonho ao luar apaixonado.

Diria tudo e mais o que viesse a mente,
Dessa loucura, paixão incandescente,
Que no instante eterno faz-se presente.

Em busca do acaso o amor mormente,
Lutou contra a fúria de uma chuva querente,
Mas não adianta a chuva quando o amor é ardente.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Palavras para um amor


Minha sempre amada,

Um dia sem você é inteiramente insuportável de viver. Lembra daquele poema que fala de um nicho da saudade eterna e das longas linhas que dediquei ao nosso amor? Das palavras, dos gestos de carinhos e das ações que faziam nossa história acontecer?
Lembrei de todos os momentos que falaste ao acaso, dos suspiros sob a noite sem estrelas, das canções de amor que escutávamos lado a lado e descobri que a cada caminho que a história traça, nenhuma chama se apaga, mesmo na aporia. Assim acontece com esse amor. Mas hoje o silêncio (indiferença, indecisão) que teima em dilacerar o peito é apenas o retrato de uma saudade guardada às sete chaves e que agora publicamente declaro, sem medo de dizer sobre aquilo que pulsa no peito é mais forte que o desejo de tê-la junto a mim. É a paixão rediviva que faz o desejo aflorar e ao mesmo tempo relembrar a doçura do teu olhar e aquela linda voz que ressoava no aprumo de um lirismo apaixonado.
Por isso não me enganei ao dizer que sofro ao viver sem você, como o mundo sente a falta do brilho intenso dos corpos celestes. Sob os auspícios do dia e da noite vou construindo um espaço cativo para reviver a tua presença. Porque os momentos se vão, mas as lembranças nos fazem fugir da dor, mesmo que nesse instante fatídico, a distância em sua tez crua, essa mesma que separa as nossas almas, tenha mais sentido que qualquer outra coisa.


Do teu eterno amado-amante.

Por Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Raios, relâmpagos e trovões


Nessa noite, por volta de duas horas da manhã, a força da natureza novamente se fez presente sobre o céu de nossa cidade. Não falo simplesmente de um temporal como muitas vezes vemos, mas foi algo assustador, intenso e duradouro para quem teme a força que vem das nuvens.
Nessa hora, encontrava-me no recôndito distante da consciência (sonhando), mas subitamente fui obrigado a recobrar a realidade mundana ao constatar a força da luz que entrava momentaneamente no quarto para logo em seguida sumir. Levantei-me e ao chegar no quintal deparei não só com um temporal, talvez o mais intenso visto e vivido em minha existência, mas com a força dos raios e trovões assustadores até mesmo para quem não perde a calma nessas horas.
Em principio, o que estava vendo realmente aparentava não ser nada demais; era uma chuva forte, intensa, sem dúvida. A diferença se encontrava precisamente na força dos raios, relâmpagos e trovões que por horas a fio incomodaram a todos. E nisto, não tive como negar: a chuva era apenas coadjuvante nessa noite.
O fato é que nesse momento, muita gente se recorda apavorada de ter perdido o sono noturno em função do medo de possíveis estragos que essa "força" pudesse causar. Nesse sentido, não poderia deixar de relatar o ocorrido e expressar a constatação de que diante da força da natureza nos tornamos meros sujeitos assustados e passivos.

Em tempo, para desmistificar algumas crendices tolas em torno de "raios, relâmpagos e trovões", como cobrir espelho ou conhecer mais sobre esse fenômeno marcante veja em:
http://www.ufpa.br/ccen/fisica/aplicada/duvidas.htm
http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2885

Ps: O texto foi escrito e não revisto, o que pode conter erros ortográficos e gramaticais. Agradeço a compreensão.

Por Carlos Henrique Carvalho

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Retrato da dor


Do outro lado, alguém gritou ruidosamente,
Mas não foi meu nome, pois quem chamou,
Hoje chora numa ladeira, copiosamente,
Por não ter evitado esquecer o amor.

Escurece minha visão sob a áurea do dia,
Logo me sinto castigado pelo destino,
E mesmo ao chegar da noite sem alegria,
como um peso morto, estarei fatigado sem desatino.

Ainda espero entender o tal grito,
Pois se o amor por acaso ficou sem rumo,
Alguém ao menos poderia ter me dito,
Que do vento só nos resta o sopro sumo.

Não vale a pena resgatar minha memória,
Deixemo-la distante do retrato da dor,
Mas se eu não sei quem chorou, tal história,
Virá a tona com um novo amor.

Por Carlos Henrique Carvalho

Imagem retirada de: www.ufmg.br/boletim/bol1589/index.shtml

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tremor e temor


"Houve um grande terremoto: o Sol tornou-se negro, e a Lua inteira como sangue; as estrelas do céu se precipitaram sobre a Terra, como a figueira que deixa cair seus frutos verdes ao ser agitada por um forte vento; o céu afastou-se, as montanhas todas e as ilhas foram removidas de seu lugar..."
Apocalipse 6:12-15

Alguns dias atrás em Sobral, um município situado ao norte do Ceará, um abalo de proporção mediana assustou seus moradores e o efeito foi sentido na capital (Fortaleza), há 235 quilômetros e, no entanto, há quem duvide disso. Mas o fato é que um tremor por menor que seja traz pânico generalizado entre nós, sobretudo, porque quase ninguém está preparado para lidar com uma situação tão extrema e que exige de todos um esforço muitas vezes hercúleo.
Claro que para as pessoas bem informadas, um abalo sísmico em Sobral é algo natural, tendo em vista que acontece com freqüência nessa localidade. Ainda assim, a situação não deixa de causar um temor por se acreditar que o chão que pisamos não é tão seguro quanto se supõe. Afinal, o que há de mais concreto do que aquilo que o nosso corpo pressente?
Um tremor por si só, não obstante causar estragos materiais, ainda faz com que as pessoas em choque e apavorada ponham em risco a própria vida. Realmente, contra a força da natureza a humanidade não tem domínio.

Para conhecer um pouco mais veja também em:

http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/02/29/ult23u1320.jhtm

Por Carlos Henrique Carvalho

domingo, 25 de maio de 2008

Despertar a saudade


O que mal se desfaz em uma lágrima,
Caída pela face a todo o pranto,
Esqueceste o dia do encanto,
De um amanhecer aflorando o amor.

Mas foi-se o tempo da paixão,
E o que ficou da esperança,
Nascida no sonho de uma criança,
Despertou a mágoa no coração.

No lugar que a dor desaba agora,
Faz viver o mundo em pranto,
É onde reside a mais cálida maldade.

Não apenas na face, há outro que chora,
Perdeu-se a noção do encanto,
E no coração renasce a saudade.

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 20 de maio de 2008

A triste constatação

Um estudo elaborado por um comitê de analista da Revista inglesa "The economist" aponta o Brasil como o 90° pais dentre 140 como o mais seguro ou seja, somos um país extremamente violento. Os dados são medidos através do IGP (Indice Global da Paz), um indicador que mede desde os gastos no setor militar ao respeito aos direitos humanos a fim de apontar segurança ou instabilidade em um país. A classificação ressalta outras questões fundamentais como os níveis de crimes violentos, a instabilidade política, o número de policiais em um país, a incidência dos homicídios, o número de pessoas presas e os níveis de acesso às armas. Nesse sentido, não há como negar que o Brasil está longe de ser um país seguro, o que renova a tese de que "sair de casa constitui-se um grande desafio e um risco à vida". Conforme noticia divulgada há um ano, o Brasil se situava em 83° de 121 nações analisadas. Em tese isto significa que a violência vêm aumentando. O relatório conclui que quanto mais se falta renda, saúde, moradia, educação e saneamento básico para um povo, mais o indicador da violência cresce. Sem dúvida, está é mais uma triste nota de um mundo feio e sem esperança.

Para Saber mais:

www.visionofhumanity.org/gpi/results/rankings/2008/.
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL487354-5602,00.html
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070530_rankingpaz_as.shtml

Carlos Henrique Carvalho

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Paris - 1968-2008: Os ecos que repercutem



Precisamente 40 anos após o estrondoso movimento de Maio de 1968 em Paris, na qual estudantes, trabalhadores e manifestantes de um modo geral paralisaram suas atividades em protesto contra os desmandos e a desordem institucional do governo De Gaulle, ocorreu hoje em 15 de maio de 2008 uma paralisação dos professores, que protestam contra reduções de efetivos e sobre as quais o governo Sarkozy já avisou que não vai ceder. " Em Paris, 50.000 a 60.000 manifestantes, segundo os sindicatos, e 18.000, segundo a polícia foram às ruas nesta quinta-feira. No restante da França, os protestos reuniram 106.000 pessoas, segundo a polícia, e 207.000, segundo os organizadores".
Para lembrar, em 17 de Maio de 1968, mais 200 mil trabalhadores entraram em greve. Nos dias que se seguiram, o número de trabalhadores que aderiram à primeira greve geral na história da França foi aumentando. Dia depois, 11 milhões de trabalhadores se envolveram numa greve que durou mais de 2 semanas. Passado 40 anos, os ecos desse movimento repercutem diante de um governo que teima em suprimir não só os direitos trabalhistas, mas o próprio direito sagrado ao protesto e à greve.
Por mais que evitemos é impossivel não associar qualquer movimento grevista hoje, sobretudo, em Paris, com aquilo que nos ficou na história há 40 anos. Sabemos que o Governo De Gaulle sobreviveu ao movimento Maio de 68, mas seu desgaste foi tão intenso que não conseguiu mais mostrar sinais de uma ação política eficaz e duradoura. Hoje, estamos profundamente carentes de movimentos e protestos como o Maio de 68, por isso, este será sempre relembrado e seus participantes admirados pela ousadia e paixão na luta por um mundo menos injusto.

Para saber mais:
http://www.opovo.com.br/internacional/789082.html
www.estadao.com.br/vidae/not_vid173320,0.htm

Carlos Henrique Carvalho

domingo, 11 de maio de 2008

A força da cultura nordestina na música



Para quem esqueceu ou teima em esquecer a importância e a riqueza cultural da música nordestina, divulgo sem pretensão de autoria da matéria. A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.
A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.
Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Francisco Alves
Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.
Luar do Sertão (toada, 1914) - João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense

--------G ----------Em -------Am --------D7-------- G----- D7
Não há, ó gente, oh não luar / Como este do sertão (bis)

--------------G------- Em------------ Am--------------------------- D7
Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
------------------------G D7------- G--------- Em---------- Am
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
--------------------------D7------------------- G------- D7
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão (refrão)

--------------G --------Em ---------Am--------------------------- D7
A gente fria desta terra sem poesia / Não se importa com esta lua
-----------------------G D7------------- G--------- Em------- Am
Nem faz caso do luar / Enquanto a onça, lá na verde capoeira
------------------------D7-------------------- G------ D7
Leva uma hora inteira, / Vendo a lua a meditar (refrão)

-----------------G--------------- Em---------- Am
Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
------------------------D7---------------------- G------- D7
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
-------------G------------- Em --------Am
Ser enterrado numa grota pequenina
------------------------D7 ----------------G -------D7
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez (refrão).

Marcadores: catulo da paixao cearense, joao pernambuco, luar do sertao

Retirado do site: http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/03/luar-do-serto.html
PS: Luar_no_Sertao_by_infoengenheiro.jpg