quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A caminho da escola



Um dia ao caminhar em direção a escola, deparei-me com uma cena estranha e ao mesmo tempo tão real na vida de muitos homens que pairam sobre a terra: vi um sujeito jogado ao chão sujo e ao seu lado uma lata de lixo. Até ai nada demais diante da situação de um povo que sobrevive num país terceiro-mundista e que todo dia sonha em alcançar status. O fato, absurdo por sinal, é que o tal sujeito comia o lixo com tamanha voracidade que chegava a assustar.
Este acontecimento dramático, por todo o restante do caminho tornou-se dono de minha consciência. Como entender uma situação pela qual eu nunca passei? Simplesmente a voz pode se erguer em discursos e interpretações múltiplas, mas nenhuma resposta explica aquilo que eu vi. Tudo aquilo que eu disser é um vácuo diante do que eu senti tão próximo e doloroso.
Meu caminho em direção a escola perdeu seu rumo diante da constatação de que a realidade é sofrimento. Durante todo o trajeto vi e vivi dores, desesperos, misérias, ainda que indiretamente eu estivesse sendo agredido. Mas quem imagina que ao chegar a escola tudo ficou para trás, engana-se; não pude mais esquecer o que eu havia visto há pouco. E tudo isto me trouxe a certeza do quão distante estamos do sonhado bem-estar, já que a miséria convive tête-à-tête com a nossa parca condição de vida marcada por uma luta estóica e quase sempre perdida.
A verdade é que a memória pôs o caminho no passado. Agora estou entrando na sala de aula e o que vejo diante de mim não é menos cruel do que eu vira no caminho. Os rostos dos jovens alunos muito se assemelham ao do sujeito que comia o lixo. Aliás, vejo um pouco daquele sujeito em cada um de nós: impregnado como corpo e alma. A miséria que estava no caminho, também é visível na escola. O estranho é que demorei pra perceber isto. Mas mesmo assim, não desisto por nada. Ao final de tudo, minha voz se erguerá contra aqueles ousaram sujar o meu caminho.

Carlos Henrique Carvalho

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