terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Incendeia o coração



Ah! distante as horas de uma chuva intensa,
Que a paixão faz de mim um ser inebriado,
A pensar em você, bela princesa,
E sonhar docemente com a lua, embriagado.

Escurece no crespúculo, se foi a aurora,
Brilha neste céu as estrelas densas,
Que me fazem esquecer os brados das horas,
Louco a escrever do amor como uma chama acesa.

Incendeia o meu coração apaixonado,
Voraz a contar coisas de amor,
E embelezar a rispidez de um dia acalorado,
Como se em todo deserto houvesse uma flor.

Carlos Henrique Carvalho

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval: a festa da burguesia católica


Transcrevo parte de um post já publicado neste blog sobre o carnaval:

"A despeito da sua origem polêmica e obscura (greco-romana ou portuguesa), o carnaval se constitui na festividade de maior apelo popular no Brasil. Tão longa que chega a durar uma semana por nossas bandas ao contrário da maioria dos países que destinam menos importância a tal festa. A verdade é que o carnaval cuja etimologia latina deriva de carrum novalis, com a qual os romanos abriam seus festejos, ou na palavra carnelevale, do dialeto milanês, que significa "adeus à carne" - uma clara alusão ao início da quaresma cristã. Foi trazido pelos portugueses ao nosso país através de uma brincadeira de mal gosto chamada Entrudo (Entrada) que consistia, segundo enciclopédias conceituadas, em lançar sobre os brincantes baldes de água, esguichos de bisnagas e limões-de-cheiro (feitos ambos de cera), pó de cal (uma brutalidade, que poderia cegar as pessoas atingidas), vinagre, groselha ou vinho e até outros líquidos que estragavam roupas e sujavam ou tornavam mal-cheirosas as vítimas."

Não tenho dúvida em afirmar que o carnaval constitui-se uma das festividades burguesas mais católica que há. Além disso, é a mais violenta. Basta procurar as estatísticas de mortes após o período momino, ora causadas pelo excesso de álcool, ora pela violência pura e crua. Outra questão que todo mundo está cansado de saber: é precisamente após este período que o número de gravidez no Brasil aumenta, dado o contingente excessivo de pessoas que fazem sexo sem os devidos cuidados.

Neste sentido, nunca é demais alertar para os cuidados que a vida requer a fim de evitar os excessos provocados pela folia. No mais, o sentido real da diversão do carnaval é proporcionar uma alternativa de lazer em relação ao cotidiano do trabalho e deveres, e não mais um carnaval burguês-católico transformado em atos de violência, desvirtuado da sua intenção alegre e festeira.

Carlos Henrique Carvalho

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O chavismo: revolução ou ditadura bolivariana?


“A diferença entre democracia e ditadura é que na democracia se pode votar antes de obedecer às ordens.” (Charles Bukowski)

Antes de qualquer coisa, é necessário explicar o que significa o chavismo?
Trata-se de uma apologia político-ideológica encontrada na Venezuela e caracterizada por seguir a Hugo Chávez, cujo projeto político se pauta nos moldes da revolução cubana. Desde 1999 no poder da Venezuela, o país mais rico em Petróleo na América, Hugo Chávez completa uma década de mandato com uma vitória significativa sobre a frágil oposição. Apesar dos protestos da esquerda, Chávez mantém uma boa popularidade entre seu povo e sai novamente fortalecido na América como um típico representante populista.

E que vitória foi essa? Através de um referendo constitucional, o povo venezuelano foi consultado sobre a possibilidade de legitimar eleições ilimitadas da presidência da república para baixo, abrindo caminho para uma terceira eleição consecutiva, um novo período de seis anos, do atual presidente Hugo Chávez. Assim, o povo da Venezuela aprovou com 54,85% de apoio, uma reforma constitucional para eliminar a limitação constitucional de uma reeleição para os cargos públicos escolhidos pelo voto popular, o que permitirá ao presidente Chávez tentar seu terceiro mandato consecutivo em 2012.

O problema é que numa situação como essa, sempre será questionada a ausência de um espaço democrático, para discutir uma política que satisfaça a todos e na qual haja uma oposição com a possibilidade de alcançar os mesmos espaços que o partido de situação.

O que esconde esta vitória de Hugo Chávez? O prenuncio de uma revolução ou mais uma ditadura como tantas outras que calaram vozes e mancharam a história política na América Latina? Ainda não sei, mas o tempo dirá.

Carlos Henrique Carvalho

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sartre - existencialismo e humanismo


“O homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não são.”
(Protágoras)

O pensamento de Jean-Paul Sartre confunde-se com a história da França e do mundo no século XX. É difícil conceber na estrutura do pensamento contemporâneo, uma personalidade com tamanha profundidade e versatilidade no que tange ao conhecimento humano. De fato, fala-se de Sartre como um sujeito impar, que foi capaz de deixar um grande legado para a epistemologia do ocidente ao expressar a condição humana de forma tão intensa e radical.

Nascido em 21 de junho de 1905, Sartre viveu os momentos mais marcantes do confuso século com a primeira metade sendo intercalada por duas grandes guerras mundiais, pela crise do capital na quebra da bolsa em 1929, e na segunda metade com a guerra da Argélia, o colonialismo russo, americano, inglês e francês, a péssima condição dos operários das fábricas, a revolução cubana, a guerra do Vietnã, o anti-semitismo, o racismo etc. Foi a partir de todos esses eventos que ele construiu uma vasta trajetória de homem que nunca negou a responsabilidade de ser sujeito da sua história, bem como de personalidade permanente no mundo do pós-guerra, visto que nunca relaxou em se engajar ativamente para fazer frente aos problemas do seu tempo.
Autor de frases notáveis como: “O homem está condenado a ser livre”, “O inferno são os outros”, “A existência precede a essência”, enfim, de obras por uma filosofia da ação, do engajamento, da ética enquanto prática e da liberdade. Sartre destacou-se no cenário francês do pós-guerra, a partir de 1945 até o fim da vida, em 1980, deixando sua marca na história da filosofia pela expressividade do pensamento e por uma proposta de uma ética enquanto fundamentadora do nosso caráter de ser livre.

Sartre é um homem múltiplo. Para se ter uma noção: é o pensador que se expressa em suas análises, sobre os mais complexos tipos de sistemas e idéias que perpassam a antropologia, a ética, a literatura, a política, o cinema, o teatro, o jornalismo e outros campos que, por ventura, não mencionaremos. Ao abranger todas as perspectivas possíveis na compreensão do que é o homem, ele se destaca no século XX como o arquétipo do sujeito engajado em todos os sentidos, sempre em busca de afirmar, na prática, a autonomia do homem frente ao Estado, à sociedade, à família e às instituições de caráter alienante. Suas incontáveis obras falam por si. Denominado pai de uma corrente filosófica: o existencialismo-ateu, que entre os anos de 1940 e final de 1960 se tornou moda no mundo, Sartre fez de um tempo marcado pelas agruras das guerras e dos conflitos, o portfólio fiel para a interpretação do homem do seu tempo ou ainda, do humanismo que latejou e ainda lateja no panorama histórico e filosófico do ocidente.

A questão do humanismo em Sartre não pode nunca ser confundida com o humanismo que fincou raiz na modernidade. Ao contrário, o humanismo que a modernidade cartesiana (Descartes) abraçou com todas as forças acreditava na realização de uma essência humana definida antes mesmo de nossa existência. Em outras palavras, o humanismo moderno, embora, aceitasse os pressupostos da razão, é profundamente imbuído de um teocentrismo, que colocava Deus acima de todas as coisas.

Já o humanismo de Sartre pode ser mais bem compreendido através de sua mais destacada conferência, intitulada O existencialismo é um humanismo. Sartre tenta repensar sua filosofia, procurando explicar por que considera a filosofia existencialista um humanismo. Afirma que o homem não nasce com essência alguma. Inicialmente apenas existe, aparece, está aí, jogado, e só depois será alguma coisa, dependendo do que faça de si mesmo. A existência do homem é uma condição para ele construir-se como homem. E isto não quer dizer apenas o desenvolvimento biológico ou psíquico. O homem deve construir-se a partir de seus planos, a partir da responsabilidade que tem por si e pelos demais. Esta responsabilidade faz o homem sentir-se em contato com o mundo que o cerca, e ser tocado pelos problemas da sociedade. Isto lhe gera angústia, que “não deve levar a um quietismo, e sim à ação”, buscando tornar-se útil à sociedade. “O homem está condenado à liberdade”. Tal é a máxima sartriana, inúmeras vezes citada, que se tornou um lugar comum ao se falar em liberdade. Por que condenado? Afirma Sartre, que a essência do homem é liberdade. Os homens fazem a partir da liberdade, o que bem entendem de si mesmos.

Com isso, evidencia-se que Sartre não foi simplesmente um filósofo e por ter desenvolvido múltiplas atividades na sua vida, acabou despertando o interesse para-além da Academia. De fato, não é um erro afirmar que a figura pública do intelectual engajado nasce e morre com Sartre. Como um existencialista, ele se esforçou por mostrar que a existência é sempre um estar em situação.

Assim, é sobre o paradigma da existência que ele construiu toda a sua filosofia. A existência é uma condição fundamental para a construção do projeto humano. O homem é tido como o conjunto de suas ações e, nelas, ele afirma a sua condição de ser humano.

Carlos Henrique Carvalho Silva –
carlosmachiavelli@yahoo.com.br
Mestre em Filosofia Contemporânea e Coordenador do Grupo de Estudos Sartre - UECE

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ama-se as lembranças



Busca-se na noite as lembranças,
No afã de um amor que nunca jaz,
Ama-se sem saber que na esperança,
Somente o caminho do amor se faz.

Sofre-se ao viver sem a noite e sua magia,
Como se a noite inundasse intensamente a alma,
E de fato eu vivesse um alegre desesperar,
Pois o encanto da paixão extingue a calma.

Mas todo viver tem seu instante mágico,
Onde ruma a ventania a apagar a dor,
E na escuridão imersa se escuta o meu canto.

Ama-se loucamente as lembranças,
Esquece-se o que seria um amor,
Afinal, sem amor a vida é um desencanto.

Carlos Henrique Carvalho

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cadê a merenda?


Mais uma vez a história se repete. Todos os anos alguns governos estaduais são flagrados com a boca na botija, desviando as verbas do dinheiro da merenda escolar, uma maldade sem tamanho com os estudantes das escolas públicas. Em alguns casos, governantes se aliam a empresários sem escrúpulos, com a má intenção de desviar o dinheiro destinado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar(Pnae)do Governo Federal.

Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), "O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), implantado em 1955, garante, por meio da transferência de recursos financeiros, a alimentação escolar dos alunos da educação infantil (creches e pré-escola) e do ensino fundamental, inclusive das escolas indígenas, matriculados em escolas públicas e filantrópicas. Seu objetivo é atender às necessidades nutricionais dos alunos durante sua permanência em sala de aula, contribuindo para o crescimento, o desenvolvimento, a aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes, bem como promover a formação de hábitos alimentares saudáveis".

Denúncias de desvios de recursos são comuns no Brasil, mas o que assusta é a profunda falta de respeito e descaso com que os problemas são tratados no âmbito da justiça, o que explica porque este tipo de crime brutal e desumano vem acontecendo normalmente. Afinal, quando a justiça peca pela morosidade, o roubo e a criminalidade tomam todo o espaço e a honestidade vai para o ralo.

Quem estiver lendo este breve relato certamente sabe que uma criança bem alimentada desenvolve um trabalho de qualidade superior aquele que não se encontra alimentado. Não tenho dúvida de que o desenvolvimento qualitativo da educação de uma criança se encontra calcada na presença de sua satisfação diante daquilo que encontra. Quando ela se depara no recreio com um ambiente gestado pela prática salutar e lúdica que favorece um aprendizado múltiplo. Mas não como negar: a realidade é outra, quase sempre cruel e desestimulante.

Enquanto isso, as crianças perguntam:
- Tio, cadê a merenda?

Fica difícil explicar para eles que tão cedo, não verão o prato cheio, porque o lobo mau comeu tudo antes do recreio. Assim, ficar na escola para eles é quase sempre um tormento, diante da falta de perspectiva no seu desenvolvimento.

Fica registrada a minha indignação com essa prática infeliz.

Para conhecer mais o programa da alimentação escolar consulte:

http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=alimentacao_escolar.html

Carlos Henrique Carvalho

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Alma ferida


No auspício de uma noite sem estrela,
Desaba o choro antes d'amanhecer,
E o que existe diante desta aparência,
É o pranto retratado sem inocência.

O acaso faz surgir em meu destino,
A dor estampada na sua crueza,
Mas não adianta fugir, oh não!
Desta vida só nos resta a solidão.

Por que feriste minha alma?
Será que não havia escolha imaginável?
Ainda que tudo em nós fosse insofismável,
O tempo apaga a chama da existência.

Neste instante a vida se retrai,
É preciso despertar o encanto perdido,
Em quem oculta a ferida n'alma,
Mesmo do dia só existe motivo para o pranto.

Carlos Henrique Carvalho