quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sombra no deserto



“Ao passado vinte anos de vida”.

Há algum tempo perdi o medo das coisas mais banais, aprendi também a sustentar os passos e a assumir os erros que são meus. Ainda que o coração feneça em meio a um deserto, a força que me sustenta não morrerá jamais, pois é a mesma força que traz sentido a minha existência e move cada passo dado no caminho de poeiras e escombros que um dia trouxe perdas, sofrimentos, e com ele, um desespero inútil que pôs em risco a vida, mas que os dias seguintes sepultaram trazendo de volta a esperança de extinguir a dor.

Como uma sombra no deserto vou vagando sob o espectro da solidão. A solidão existe estando sob a companhia de um ente ou de um fantasma. A solidão não se explica: vive-se ou tenta enganar. Na verdade, Norman Brown um dia disse: “Toda a história do homem é um esforço para destruir a sua própria solidão”. Mas eu afirmo sem estupor: por mais que se esforce o homem não consegue reduzi-la a nada. A natureza humana está irremediavelmente presa a solidão.

O horror estampado na mente prenuncia a dor de uma vida inexorável, a própria existência permeada por dramas inadiáveis. A vida se torna mais sensível diante dos fracassos e a força deste explica porque uma alegria tem sempre um gosto efêmero, fugaz até libertar-se no vazio.

Caminho em passos lentos, porém retos, ciente de que amanhã poderei descobrir bem mais do que hoje sei. Apesar dos percalços, a vida vale à pena quando a liberdade não se apequena e as escolhas são sempre feitas. Sem as escolhas nunca saberíamos o limite entre um erro ou um acerto. A crença ou o desejo, a verdade ou a mentira? Será isso tudo o que há?

Mesmo que caia rente ao chão seco, no recôndito da alma unirei forças para me soerguer do cadafalso da ruína e fazer uma nova história sem perder a emoção da vida. A minha sombra luta no deserto, mas vive entre as ruínas e os corpos de um lugar abafado pela ousadia de um sonho outrora perdido. Os anos sucedem uns aos outros, mas aquele lugar continua o mesmo e reconheço que por conta dele, minha sombra vive um permanente processo de mutação e entre suor e lagrimas vou construindo um novo sentido para a vida: um sentido que ainda hei de descobrir sem sombra nem deserto.

Por Carlos Henrique Carvalho

Um comentário:

Victor disse...

É bom ler escritos de outros que, como nós, bebem das mesmas fontes.

Tomei a liberdade de linkar teu blog no meu.

Abraço!