segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O corpo estetizado nas Olimpíadas


"Transformado em espetáculo pelos meios de comunicação, o esporte, enquanto
signo da sociedade contemporânea, remete a imagem de viver bem, estar bem
consigo, ser vitorioso, transmitido como ideais a serem atingidos pela média da
população.[...] o esporte, visto como mais um produto de consumo, precisa criar
protagonistas para vender em espetáculo esperado e desejado".(RÚBIO,2001,p.103).

Aproveitando o embalo das Olimpíadas de Pequim 2008 e de mais um fracasso brasileiro numa competição desse porte, venho a refletir sobre a relação entre a prática esportiva como valorização do sucesso e a otimização da performace dos atletas, que dispõe de todos os tipos de medicamentos e produtos a fim de tornar o corpo mais forte, resistente e "belo".
Reconheço que em competições individuais, a performace de um atleta resulta sempre numa pressão maior em relação às compertições coletivas. Por exemplo, numa competição de levantamento de peso ou salto com vara, somente um atleta tem condição de competir e chamar a atenção da mídia e do seu país de origem, como um exemplo de atleta de vitorioso, um herói. E isso traz uma pressão que exige frieza emocional e racionalidade em sua ação, o que raramente ocorre em esportes coletivos (futebol, volei, basquete etc.) na qual as responsabilidades são divididas e a culpa pelo fracasso também. No entanto, tornou-se comum que muitos desses atletas no afã de tornar-se reconhecido como um vencedor, acaba por destituir-se de moral e/ou virtude, passa a utilizar drogas e criar uma sobrecarga de treinamentos que o corpo não suporta por muito tempo. Quem acompanha essas olímpiadas deve ter notado inúmeros atletas abandonando as competições por falta de fôlego ou contusões que variam das mais simples às gravíssimas, desencadeando um sentimento de vazio, de frustração.
Acontece que o corpo não é uma máquina e jamais deve ser tratada como tal; é preciso superar esse discurso "inquestionável" de que o corpo sempre suporta mais um pouco e aceitar de uma vez que todos os atletas são humanos e falhos, o que não os impede de ser um vencedor. É necessário ir além da cultura da imagem do eu, que estabelece a hegemonia da aparência, que passa a se constituir critério fundamental do ser.
Assim, o atleta passa a valer pela sua aparência, de acordo com as imagens produzidas para se apresentar na cena social. Nesse sentido, a mídia cumpre um papel de destaque nessa configuração, pois, com seu culto às celebridades, alimenta os sonhos narcisistas de fama e glória do homem comum que, identificado com esse discurso, sente dificuldade em aceitar a banalidade da existência cotidiana.
Claro que a máxima apregoada pelo Barão Pierre de Coubertin (1863-1937) - "o importante é competir" - não passa de uma utopia poética. Mas isso não é motivo para que uma vitória ocorra na base do uso de drogas ou de fraude, isto é, competir a qualquer custo tem produzido muitos resultados frustrantes. O triunfo não está simplesmente numa vitória, na medalha olímpica, mas no aprendizado que uma competição pode gerar, como uma experiência inesquecível que supera qualquer noção de que o corpo é a única identidade real do sujeito.


Para conhecer mais sugiro uma bibliografia:
LIPOVETSKY, G. O Crepúsculo do Dever. Lisboa: Dom Quixote, 1994.
RÚBIO, K. O Atleta e o Mito do Herói. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001

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